NÃO É UMA ACUSAÇÃO
15 de Março de 2004
José Dirceu esteve a um passo do cadafalso
pela sua formação de guerrilheiro graduado em doutorado de
informação e contra-espionagem em Cuba. A um passo do banco dos réus
pelo fato de ter dividido o mesmo teto com Waldomiro e nunca
descoberto sua verdadeira identidade: um vice-ministro a serviço das
loterias no trânsito dos pleitos para liberação de verbas, o
varejista por excelência. Deixando no limbo a liberação do bingo a
caminho do cassino, agora que bicheiro é empresário e vale a pena
escorchar o jogo de azar para arrancar recursos, sob o título de
impostos, e suprir programas sociais que matam a fome do eleitor
desempregado.
O que deixou sua biografia com uma ponta de dúvida, aumentando
o zoom, com uma cicatriz profunda que avança pelo intestino grosso
do PT. Posto que passou para a sociedade o medo de apurar fatos,
agindo exatamente como os outros partidos, como o Vaticano na
questão da pedofilia, como Bush no inventado desarmamento nuclear do
Iraque. A ponto de redefinir o caráter investigatório das CPI’s,
puras manobras para imobilizar o governo e tirar o Zé Dirceu da Casa
Civil. Quem te viu, quem te vê.
Deixando a impressão de um governo que se
deflora a conta-gotas e perde o viço, quando o imaginário popular
iguala todos no pior dos critérios: o caráter, ou seja, não tem
jeito, somos todos ruins perante a lei. O sentimento de que política
e ética são incompatíveis. Uma vitória espetacular dos cardeais e
bispos da classe política que alcança o baixo clero. Tudo o que
Maluf desejava, um Brasil com a sua cara, com São Paulo apitando
piuííí para os 24 vagões, um modelo de governo que nos transforma em
canteiro de obras a toque de caixa dois e, posteriormente, nos afoga
em inundações e dívidas.
José Dirceu foi líder estudantil, preso político, exilado e,
para reingressar no Brasil ocupado pela ditadura militar, precisou
submeter-se a cirurgia plástica e casar-se com uma paranaense de
Cruzeiro do Oeste sem nunca ter lhe revelado a verdadeira
identidade. Até a promulgação da anistia, quando assinou o distrato,
desfez a plástica e retornou como o zé querido de todos. Deixando no
ar uma suspeita. Seria um ato de guerra passível de anulação de
mandatos futuros? Qual das vossas excelências tem moral suficiente
para julgar tamanho abacaxi?