CICUTA
16 de Novembro de 2004
A democracia americana se renovou nessas
eleições sob o signo da morte. A guerra é o sétimo selo.
Desconversou-se sobre os motivos que levaram à ocupação, muito
distante. Paz significaria bater em retirada, recuo, um convite à
invasão do solo sagrado americano, enfim, uma vitória dos
muçulmanos, como se não bastasse a dos vietnamitas. Entre Bush e
Kerry para senhor da guerra, melhor o Bush, já bem entrosado no
ramo, embora tenha levado pau no vestibular para soldado. O
combatente Kerry não é mais o mesmo, depois de ter casado com a
herdeira do ketchup Heinz - inadequado para dirigir uma nação com
alma de igreja.
Os Estados Unidos miram-se no belo exemplo da Inglaterra, sua
aliada, co-irmã e esposa fiel na comunhão da ideologia do porrete
para quem ousar ofender a liberdade de expressão, num arco que vai
do skinhead à Al-Qaeda. Emergiu do fog para ir até quase o
Pólo Sul e resgatar as Malvinas do ditador argentino de plantão que,
bêbado, não atinou que a ilha só se presta ao ostracismo.
Comprovando que o 4 de julho acabou se convertendo num
gentlemen’s agreement.
Falaram mais alto as torres caídas ao som de
“New York, New York”, cantada por Sinatra, o que ofende e merece
pronta resposta. O islamismo não é capaz de captar a sensibilidade
hollywoodiana, se de Meca chora o petróleo derramado em detrimento
dos costumes árabes que não se renderão à podridão da sexualidade
ocidental: um flagrante desrespeito às esposas e o mau exemplo do
casamento gay.
Maktub! Ocupar o Iraque não satisfez a vingança de um
povo que cultua a guerra. Apesar de seguir o evangelho à risca e não
exercer o perdão - que foi feito para amar. A autonomia com que se
organizou os estados americanos instila o espírito da secessão como
contraponto do espírito belicoso.
Não que seja fácil perdoar o danado do Osama em vídeos que
espalham pânico 1, 2, 3, mas o ódio sacrifica o equilíbrio do
planeta, promove o terrorismo nuclear em nível caseiro e mata
soldados americanos todos os dias.
Os americanos vivem voltados para si, pouco se importando com o
planeta que globalizou. Ora, se constituem um império que derrotou a
lavagem cerebral comunista, não vai existir profeta que lhes impute
o isolamento a que se relegaram. Ademais, império por império, o
romano não lhe faz sombra, daí a César o que é de César. E ainda
pegam uma carona na democracia ateniense para fazerem jus aos
direitos autorais desse apanágio que é a liberdade de expressão,
livres do ranço intelectual helênico.
Embora não entendam por que Sócrates preferiu ingerir a cicuta
ao invés de fugir.