PAPA-GOIABA
21 de Abril de 2004
A omissão de Rosinha na Rocinha na
Sexta-Feira Santa, no confronto entre os traficantes Dudu e Lulu -
substituído por Zarur -, se deveu ao seu estado de saúde. Anemia
política. O estresse evidenciou a materialidade do ilícito, a jovem
senhora já foi internada uma unidade de vezes. Preocupante, em nome
de uma cidade que todos amam à primeira vista. É bem verdade que a
excelente comunicadora se desidrata ao sabor de dietas anacrônicas
que mal adiantarão por se originar de Campos, a terra do chuvisco,
melado, rapadura, bom-bocado e da goiabada cascão - a preferida do
Garotinho, que desistiu dos regimes e consolidou-se no Bolinha, ao
imitar César Maia em trocar de partido tanto quanto Romário se
persigna ao perder gol. A única diferença é que o Kaiser, em função
de suas companhias, deixou de ser identificado como cria do Brizola
- considerado o responsável pelo desgoverno que se disseminou pelas
favelas, o seu carma.
Pois bem, está na cultura da Rosinha a obesidade - o mal do
século XXI depois dos aditivos químicos -, cevada em nove filhos, a
noviça rebelde da família dó-ré-mi que alimenta a grande cisão que
começa a crescer que nem fermento. O enfrentamento entre as elites
formadoras de opinião - assim elas se crêem - e a tropa de choque do
antigo Estado do Rio em oposição à Guanabara, do interior versus
capital, da dupla caipira - em São Paulo não é ofensa e sim motivo
de orgulho - azucrinando a Cidade Maravilhosa. E quem não gosta do
Rio, a aquarela do Brasil, bom sujeito não é.
Acéfala é tudo que não queríamos para a cidade
dos encantos mil, embora Garotinho seja o governador de fato do Rio
de Janeiro, prestando Rosinha um desserviço à causa da mulher
chefe-de-família que banca a criação de suas crianças e adolescentes
e os procura educar nessa selva sem princípios, onde bandidos as
aniquilam sem dó nem piedade para com seus filhos.
Mas se esses inconseqüentes já não têm pai e mãe perante a
sociedade, que diferença faz? Ganhar apoio na orfandade mais
abastada, gerando o caos na família ao atrair bobos alegres criados
sem limites por pais superprotetores, e provocar a dissolução nos
costumes e a desorganização que implica na quebra de hierarquia
sobre a qual se estrutura a sociedade: o princípio da polícia para
podermos viver em paz e não retrocedermos aos tempos em que
exigíamos as cabeças cortadas de goitacazes e tamoios, a exemplo do
presunto do traficante transportado de carrinho de mão para o
rabecão.
Os papa-goiabas em xeque. A ressurreição de lacerdistas no
front da erradicação de favelas, a Barra da Tijuca ficou ilhada. A
maquiagem do Conde - ou do Kaiser? - na urbanização de favelas
através de recursos do BID foi um tiro n’água. Funcionando ou não,
os CIEP não fizeram a cabeça dos afro-cariocas, perguntem pro Zé
Dirceu para onde foi o socialismo. FHC culpabiliza o usuário, até
ele se esqueceu do que escreveu e aprendeu em sociologia a respeito
de usos e costumes. Anônimos tabagistas, alcoólatras, neuróticos,
uma massa de desempregados, os inadaptados ao grau de civilização
atingido, se tivessem voz ativa explicariam melhor.
Só assim o brasileiro abandona sua inércia de Macunaíma em bem
cumprir seu papel de mantenedor da situação conforme se apresenta,
diante da ameaça profetizada: o dia em que o morro descer e ocupar,
o MST é o trailer desse filme. Muda antes que a população passe por
cima da cabeça do presidente e dos poderes constituídos. O panorama
do Rio visto do Corcovado não deixa margem a dúvidas.