REPLICANTES
19 de Janeiro de 2004
Num mundo onde tudo é fake, desde a
bolsa Vuitton até a produção de órgãos e tecidos artificiais para
uso em seres humanos, acabaremos por provar que a imitação superará
o que foi original. Ao se apressar em desfigurar a realidade,
suplantando o que não poderia ser substituído. Conforme previra o
filme “Blade Runner”, a era humanóide dá sinais de exaustão. Tiveram
muito tempo para fazer amor e não a guerra, abrir mão de seu ponto
de vista, saber perdoar e alcançar o significado do termo caridade.
Aproxima-se a hora e a vez dos replicantes.
O sangue em pó resolverá o grave problema da falta de estoque
para transfusões quando agilizar o atendimento nos centros de
emergência, não mais sendo necessário correr atrás de um doador
compatível. O implante coclear - estrutura do ouvido responsável por
transformar os sons em impulsos nervosos e enviá-los ao cérebro -
permitirá a recuperação de um dos tipos mais comuns de surdez. A
pele artificial, criada a partir de colágeno bovino e silicone,
estimula a regeneração de queimaduras graves, ao tempo em que é
absorvida pelo organismo em tempo recorde. Cicatrizar feridas a
partir de materiais que interagem com o organismo e substâncias que
estimulam a multiplicação celular permite pensar grande: produzir
orelhas e narizes. E por que não o transplante de rosto, a caminho
de Frankenstein?
O que abre as portas para uma era de otimismo.
Mexer na mente, não necessariamente no cérebro, nos impulsos que
comandam as nossas vontades e desejos. Sem que seja mais
indispensável a mulher fazer uma revolução para tirar do homem a
provedoria da casa. Sem cair no marasmo de nada satisfazer as
mulheres e dos homens não as entenderem. Sem os homens reclamarem de
cobranças ou exigências descabidas da mulher.
Sem os esquizofrênicos sonharem ao mesmo tempo estar livres e
ter compromisso. Unindo as decaídas, amélias, brancas-de-neve e
cinderelas num rolo compressor para rejeitar o egoísmo e a ambição
desmedida, que redundam na falta de cavalheirismo e expõe às
vísceras a cultura animal de que não conseguem desvencilhar-se:
vagabundear por aí ou depender de um amor de mulher, eis a questão.
Abreviar os dias em que os homens não competirão com as
mulheres e as admirarão por serem independentes em seus projetos de
vida. Ela poder erotizar a relação, baseada no sexo tudo ser
possível, sem recair no baixo nível de ser rotulada de galinha por
tomar a iniciativa amorosa. Insatisfeita com a postura passiva
secular à espera da decisão do homem, e partir para a conquista.
Dizer o que lhe agrada e se sentir livre. E o homem não se inibir,
repicando com mais, mais prazer, proporcionando maior entendimento
tanto no relacionamento quanto nas resoluções do dia-a-dia. Ambos
falando, fantasiando, saindo do mundo real, sem que provoque comoção
ou insegurança, essa a maior riqueza a ser alcançada entre dois
seres que se amam.