CHUMBO GROSSO
23 de Agosto de 2004
Qual é o subproduto do conjunto Iraque do
ex-Saddam, Al-Qaeda, Bush e os bandidos do Rio de Janeiro que matam sem piedade?
Uma geração de pitboys que reage à escalada da violência.
Em caráter preventivo, reza o seu álibi. No muque, ao apagar das luzes nas
boates, no chute na cara do adversário caído no chão, nos golpes deliberados na
cabeça para que fiquem lesos igual a eles. No comando de cachorros assassinos
que trucidam o rosto de crianças indefesas. Pautados pela máxima de que o cão é
o melhor amigo do homem e de que o caráter do ser humano não falha - se, ao
menos, observasse a mesma fidelidade canina -, castrando o poder legiferante que
necessita de cães de guarda em seus lares para proteger suas fortunas amealhadas
sabe Deus lá onde.
Como há quem acredite que a sociedade muda para tudo continuar
na mesma, eis que agora surge a pitfamília. Assim escalada: o chefe de família,
a esposa - que chuta com os dois pés - e dois filhos, sendo um menor,
especialista em mordidas. De nível universitário, quando muito não seja de
classe média alta. Os motivos para saírem espancando são os mais nobres, uma
multa de trânsito mal aplicada ou qualquer desaguisado no condomínio, como o som
elevado ou um carro estacionado na sua vaga. Resolvem na base do lançamento à
distância de cabeça-de-nego ou pichações com a suástica nazista.
Não é à toa que surgem cidadãos brasileiros ilustres, que se
consideram americanos - seu segundo time -, a nutrir um ódio anômalo pelo boné
sebento e barriga indecente de Michael Moore. Patriotas invertidos, que não
crêem numa guerra a mais detonada apenas para que a indústria bélica lucrasse
more and more (em inglês é maior). Estão sempre a trocar o inimigo da águia
da democracia, ora o nazifascismo, ora o comunismo, agora o terror islâmico - e
depois não entendem o surgimento de uma onda antiamericana. A confrontar
aspectos facciosos, tendenciosos ou panfletários de "Fahrenheit 11 de Setembro"
com as mentiras de Bush veiculadas na mídia, como se pudesse equiparar Davi com
Golias, o poder de atração de um cineasta contra o poder de fogo do presidente
dos Estados Unidos & Cia.
Como se a liberdade de expressão não permitisse editar os fatos
ao sabor da ideologia de cada um, cabendo ao público se levantar e aplaudir de
pé, se reconhecido o talento, ao se revoltar com o recrutamento de soldados nas
camadas mais pobres, em caráter de emprego, para morrer nas guerras - antes eles
do que nós, o princípio.
O pacifismo como figura de retórica, segundo os eleitores de
Bush no Brasil. Perderam o espírito lúdico do cinema, ao empunharem sua bandeira
política, quando se delongam em explicar o vício nas últimas eleições
americanas, julgando o público cego e surdo. Perderam as estribeiras, como o
governador em exercício no Rio de Janeiro, o senhor Garotinho, que chamou os
policiais de esquizofrênicos, ao não saberem o que fazer: se atiram primeiro e
perguntam depois ou se entregam os pontos, ao não distinguir entre se defender
como alvo fácil dos bandidos ou proteger a população.
De todas as formas, venha de onde vier, é chumbo grosso.