BABILÔNIA REVISITADA
24 de Maio de 2004
A missão era clara: quebrar o ânimo dos
prisioneiros a serem interrogados, como reflexo da guerra no Iraque
contra os demônios de Alá. Encapuzá-los e levá-los ao inferno para
que dessem informações. Despindo-os e formando uma pirâmide,
obrigando-os a se masturbarem na frente de outros, para depois serem
pisoteados. A nudez constitui uma ofensa maior do que a própria
tortura para o muçulmano, tanto que os jornais iraquianos não
publicaram as fotos a fim de proteger a imagem das vítimas.
Os maus-tratos infligidos pelos americanos ocorreram no mesmo
presídio símbolo da tortura de Saddam Hussein, quando cães famintos
se serviam de recalcitrantes ao regime. Freud se orgulharia de sua
suprema descoberta: o ato falho.
Ponham na conta da CIA e do Serviço de
Inteligência do Exército, com essa obsessão atual de terceirizar
tudo. Até interrogatórios no Iraque. A violência e o escândalo se
deveram a carcereiros contratados em pizzarias, como Lynndie, ou
profissionais como Graner, de cujo currículo constam espancamentos
em presídios americanos e agressões físicas à esposa, o que obrigou
a polícia a proibi-lo de se aproximar dela num raio de um
quilômetro.
A mesma atitude que Portugal tomou quando enviou degredados
para colonizar o Brasil. Ou seja, a escória. Com a diferença de que
pagam bem o sacrifício desses abnegados patriotas, às custas do
petróleo iraquiano. Se o mercenário pirar na Babilônia revivida,
mandam-no de volta e tapam o buraco com outro fresquinho da silva.
Amolecer os presos por meio de humilhação foi o princípio que
fez Lynndie e Graner se envolverem afetivamente na vistoria às
celas. Como ela precisava se mostrar homem, forte e atlética, apelou
para impressionar puxando um presidiário nu pela coleira, como se
ele fosse um cachorro. Deu certo, ela está grávida. Dando tratos à
bola em Bush, que cogita abrir uma exceção na campanha antiaborto,
com receio de desencadear uma espiral de aberrações que uma guerra
carrega no seu ventre.
máquina bélica americana demonstrou tal superioridade no
confronto que desprezou a essência da América vendida: a propagação
de valores como o estado de direito, as liberdades democráticas e a
inviolabilidade da pessoa. Também, queriam o quê? Implantar uma
transformadora experiência democrática na terra de Nabucodonosor? Em
desertos onde o petróleo restabeleceu o poderio de monarquias e
aiatolás, granjeando respeito e temor ao islamismo. Um desígnio
sagrado, sem sombra de dúvida.
As peças não se encaixam no quebra-cabeça a quem se arroga no
direito de querer ensinar democracia. A exemplo de Maluf, que
desafia quem encontrar contas suas em paraísos fiscais a ficar com o
dinheiro depositado. Ao ter falado com Deus e obtido a garantia de
que seus pecados são mínimos se comparados com os de Pitta, algum
patife depositou 345 milhões de dólares à sua revelia em bancos
suíços, na mesma época em que, como prefeito, transformou São Paulo
num canteiro de obras. Resultando em constantes inundações que,
ainda assim, não fazem decrescer a devoção à sua imagem de
administrador competente.
Se instituído o concurso do copo, muita gente boa estaria à
frente do presidente Lula, afeito às “branquinhas” para encarar as
madrugadas gélidas do ABC paulista. Bush é réu confesso e
regenerado. Se considerarmos a eleição como um porre de felicidade,
poder-se-ia comprometer o grau de alcoolismo de um país inteiro e -
por que não dizer? - de províncias alhures.