CERVEJARIA
26 de Abril de 2004
A AmBev é subproduto da fusão da
Antarctica com a Brahma, ainda que ninguém vá pedir no balcão “me vê
uma AmBev aí”. As louras geladas juntaram esforços para esmagar as
concorrentes e alcançar o mercado internacional, o que, do ponto de
vista economicista, atrai capital estrangeiro para ser investido no
país e, em conseqüência, aumenta o nível de emprego. Embora a
automatização seja o forte de cervejarias. Nada que espante, já que
o capitalismo pulveriza insignes concorrentes em nome de valorizar
as ações de empresas que adotem o princípio de Golias. Bom para quem
vive de dividendos.
A AmBev acabou de se fundir com a cervejaria belga Interbrew;
por baixo dos panos, teria sido vendida por US$ 11 bilhões. Nada que
espante, nacionalismo é uma página virada, a internacionalização da
economia é fato consumado, brasileiros que vendem seus negócios
enriquecem, blindam seus carros, vão cuidar de seus interesses no
exterior e ninguém tem nada a ver com isso, não se fala mais da
falta de ética de Zeca Pagodinho no episódio do “experimenta”, e o
melhor a fazer é tomar um chope bem gelado.
Tem um porém. A conta da AmBev de 525 milhões,
pendurada no BNDES em linhas de financiamento que vencem de 2004 a
2009, além de um empréstimo de 715 solicitado para modernizar
fábricas. A visão estrábica de estimular o econômico em prejuízo do
social com essa grana toda. Com o nosso dinheiro. Pouco importa em
que governo se originou, pois a mentalidade é a mesma. Malbaratando
a finalidade de um banco que sempre prestou relevantes serviços ao
país cuja preocupação precípua era investir em setores estratégicos
da nossa economia, aliada ao nível de emprego.
O que ajuda a compreender melhor por que no vernáculo o termo
esculacho renasceu das cinzas, na boca de presidiários e
traficantes. Diante do Fome Zero, de 80% da população brasileira
acotovelada à beira do litoral, da periferia avançar sobre o que os
ricos conquistaram e se enquistaram, da câmera oculta de televisões
que constatam inúmeros focos de ignorância na nossa educação, da
concentração de renda na mão de tão poucos, e por aí vai.
O que dá ao presidente do BNDES, à semelhança ao
do Banco Central, uma dimensão de autoridade somente subordinada ao
da República, face à gravidade dos direitos lesados de uma maioria
silenciosa que assiste, impotente, a essa gente esperta, de boa
formação, de notório berço, aplicar sua inteligência em tirar
proveito do paraíso onde nasceram. Sacar vantagens da mãe que os
pariu. E colher os frutos no exterior, longe da insegurança que
campeia no faroeste em que transformamos a outrora cordial aquarela
do Brasil.
E pensar que Palocci, abraçado ao Malan, já
comemorou com a elite econômica da PUC a queda do risco-Brasil, a
credibilidade em alta consagrada pelos índices econômicos em
detrimento dos indicadores sociais que refletem a nossa
miserabilidade. Nada que espante em escolas supostamente
heterogêneas chegarem a um denominador comum, a exemplo do marido
que procura uma amante à semelhança da esposa, em gênero, número e
grau.