VEXAME
27 de Janeiro de 2004
O Brasil foi eliminado das Olimpíadas pelo
cavalo paraguaio, depois de conquistar o penta e se sagrar campeão
do mundo nas categorias dos 17 e 20 anos. O futebol exige que você
mostre superioridade a cada partida. Não se pode cantar de galo na
véspera, senão acaba como o peru no Natal: saboreado em fatias pelos
que arrotam a empáfia com um prazer de quem adora dançar tango.
O vexame se delineou numa brincadeira de criança da dupla de
atacantes do Santos, antes da competição. Robinho abaixou as calças
de Diego, digo, o calção, e, como são celebridades, os fotógrafos
clicaram. Na medida, para não mostrar o mesmo desempenho artístico
no gramado. Decepcionando como autênticos blefes que merecem ser
banidos para ganhar dinheiro na Europa como micos amestrados, ao
lado de Denílson, seu inspirador. E viver da fama de pedaladas.
Pior do que não ter espírito de seleção e
amarelar é insistir numa brincadeira freqüente entre garotos de 10 a
12 anos de idade. A finalidade é expor as partes pudendas a meninos
e meninas, maculando o futuro do otário, pois no currículo ficará
registrada a sua vergonha. Até então resguardada pela santa mãe.
Desprotegido, ele se constrange com o desnudamento do pinto que mais
parece minhoca e com a exposição das nádegas para apreciação gay da
platéia que ri despudoradamente. Uma gozação que o obriga a fugir ou
a brigar, porquanto desmoraliza. Como sua auto-estima oscila
conforme os ciclos da lua, sentir-se um zero é a conseqüência. Uma
antevisão do que a sociedade reserva para acolhê-lo e formá-lo.
Inibindo a aproximação daquela lourinha de tranças no canto, a única
que não tirou proveito da situação. Obrigando-o a se defender de
lobos oportunistas que querem dar o bote para forçá-lo a definir sua
preferência - a antecâmara do sexo. Enquanto o autor brincalhão
mantém-se ileso, ser escorregadio, moleque e sonso bem disfarça uma
vontade que ainda não tem coragem de assumir e delimita seu futuro
caráter.
Diego se justificou com sua musculatura não respondendo à
importância dos jogos, e Robinho chorou. Com receio de ser comparado
ao Alex do Cruzeiro que fracassou nas Olimpíadas de Sidney e ganhou
o apelido de Lexotan por jogar dormindo em campo. Cruel o esporte
que exige para dar a volta por cima uma definição na brincadeira de
baixar as calças e evitar novos vexames. Elevado o preço do
estrelato ou, então, que se assuma a obscuridade e seja feliz em sua
opção sexual. Pedalando, pedalando...
A síndrome do complexo de ter de provar que é homem. Acima de
qualquer suspeita. Por esse buraco da agulha muitos passam, o filtro
não é rigoroso, o difícil virá depois: provar ao longo da existência
que é homem. Suas mãos percorrerão o pescoço, muitas vezes suado,
sob a ameaça de quererem a sua cabeça. A virilidade funciona como
guilhotina. Mostrar firmeza, não falhar na ereção, dizer a que veio
nos momentos decisivos é uma obrigação, senão o fracasso surge que
nem um fantasma a morder seus calcanhares como um rato que ruge.