ABDUÇÃO
04 de Abril de 2005
Abduzir é segregar do convívio. Consiste
em tirá-lo violentamente do útero do planeta, por ocupantes de OVNI’s,
através de uma luz brilhante que o paralisa de medo e terror. Quando menos
esperar, será subtraído de ambientes isolados, como da direção de um
automóvel, e sentirá alegria e êxtase em contato com os alienígenas. A
comunicação por telepatia, enquanto colhem amostras de pele, sangue, mechas
de cabelo, óvulos e esperma, além de implantar chips para monitorá-lo. Um
anfitrião o levará a excursionar pela nave-mãe, enorme e bem iluminada, para
travar conhecimento com outros seres, presenciar fetos aliens-humanos
híbridos crescendo em tanques com líquidos, e assistir detalhes da história
passada da Terra e previsões de futuras catástrofes em salas exibidoras. Ao
final, retorna ao disco-voador original, que o devolve à superfície da Terra
em local distinto de onde foi abduzido. Num lapso de tempo que comprova a
quimera do tempo em outro plano espiritual.
O apego do terráqueo à coerência na combinação fantástica de
elementos diversos no todo heterogêneo, faz com que no regresso ao
lar seja apagada da memória qualquer remissão, como se nada tivesse
acontecido, como se tudo não passasse de um sonho. Porém, em estado
alterado de consciência. A imaginação se tornará mais vívida, o sono
um filme de suspense, a fartura não saciará o apetite, a alienação
junto à família e amigos ganhará visibilidade, apenas alguns flashes
dos mais enigmáticos da ufologia virão à tona - uma fábula
aparentemente sem sentido.
Por vezes,
quando acordamos, nos sentimos paralisados, com a sensação de que
fomos arrastados ou nos encontramos ainda flutuando, ou de que há
outras pessoas lhe assistindo, sem saber se voltamos à realidade. Um
ensaio para testar se somos refratários a outros filmes interferindo
no teu filme e na nossa capacidade de aceitar outros planos de vida.
Colocando em xeque se nos detemos para examinar com cuidado
o entorno ou se fazemos uso de nossa agilidade mental tal como os
OVNI’s se movimentam no ar. Com uma velocidade inatingível pelos
nossos veículos, em evoluções impensáveis pelos atuais padrões de
navegação aérea, mudando de altura e curso com incrível rapidez, bem
como pairando no ar e parecendo falar com seu sistema de luz, ao
alterar a intensidade e o brilho. Tal como o nosso pensamento, tão
subutilizado ou decodificado.
O que nos remete à verdade estar lá fora, buscar um elo
entre as descobertas da ciência e as mudanças dos padrões atuais, a
ser possível entrar em contato com seres que vivem no interior de
nós mesmos, ou em Plutão, nos anéis de Saturno, na face oculta da
Lua, derrubando divisórias entre o passado, presente e futuro.
Posto que somos condicionados a uma existência com início,
meio e fim - a morte como paradigma -, a chave do enigma seria não
nos limitarmos ao que faz sentido, pois a força da gravidade nos
comprime contra a Terra achatada que nos deixa chatos por não
podermos voar e suplantar essa barreira, escapando de nossas
referências, horizontal e vertical, traçando uma bissetriz em linha
reta que fuja às coordenadas que tentam nos ordenar.
A sensação que se confunde com a vontade é de que está saindo
desse planeta e se dirigindo a outra galáxia, numa viagem sem
retorno, a exemplo de quando as pessoas decidem entrar num disco
voador. Para partirem de vez desse mundo, o que não significa
morrer, e sim escapar do embarreiramento que dificulta o acesso a
degraus mais altos.
No limite de se deter no medo de abandonar origens e
referências, à dependência do apego, vínculos e a guiar seu destino
com os pés no chão. Porém as luzes piscam ao ingressar no disco,
encantam e envolvem, o fascínio te empurra a subir a rampa e
embarcar. Ao lado de companheiros rotulados de OVNI’s, por não
pertencerem a esse mundo, voando por cima de panelinhas e igrejinhas
que não chegam a um acordo sobre o butim da sociedade, no curso da
pilhagem e da posse.