O CRIME NÃO COMPENSA
07 de Novembro de 2005
Olha no que foi dar roubar 165 milhões do
Banco Central de Fortaleza e transportar a dinheirama em táxis e aviões
comerciais, expondo-se ao olho eletrônico dos aeroportos. Os ladrões se
converteram em alvos da cobiça de seqüestradores, como se milionários
fossem, e - por que não dizer? - da polícia. Sob o álibi de coibir a
afronta ao aparelho de segurança do Estado. Que pena, logo agora que
iriam se transformar em cidadãos respeitáveis, ao se vestirem
elegantemente, terem unhas esmaltadas e complementarem a dentadura.
Embora a Justiça trate com dois pesos e duas medidas ricos e
marginalizados. Graças à sensibilidade comovente do juiz Carlos Velloso
com o sofrimento de um pai preso na mesma cela que o filho. Com seu voto
de Minerva, soltou os Maluf. O tempo dirá se a estratégia de
depauperamento de Paulo Salim, com barba por fazer e se utilizando de
cadeira de rodas, deu certo. Da prisão resultou quadro agudo de
depressão, instabilidade emocional e dificuldade de raciocínio,
agravando o estado anterior de cardiopatia, hipertensão, infarto,
próstata, hérnia de hiato e gastrite. Que pena, seu advogado foi cruel e
valeu-se da mesma estratégia utilizada no caso Pinochet. Um abalo na sua
auto-estima, que o deixou magoado com a injustiça perpetrada por
promotores que vivem de instaurar perseguições. Terá de se conformar com
a prisão domiciliar, pois uma comemoração implicará na privação imediata
da liberdade.
O princípio básico da vida é a liberdade - vem
em socorro o ministro Marco Aurélio Mello. Deixando-nos estupefatos
depois do categórico “não” da população no referendo, em protesto contra
o descaso da política de segurança pública.
O presidente do STF, Nelson Jobim, não ficou atrás e foi em
socorro de Zé Dirceu - não se pode cassar o deputado quando ele era
ministro da Casa Civil. Ao se preparar para assumir novas
responsabilidades no ano que vem, Jobim desenvolveu uma tese libertária
de que o Congresso pode se sentir encorajado a cassar o mandato de
qualquer autoridade e ameaçar o equilíbrio dos três poderes. Como o do
presidente do Banco Central ou do ministro da Fazenda, quando a política
econômica evidenciar uma quebra de decoro de tão amoral que é, ao faltar
verba para combater a febre aftosa ou o banditismo reinante. Poderá
chegar ao cúmulo de destituir do cargo um dos ministros do Supremo por
discordar de um eventual voto proferido em julgamento.
Aí alcançaríamos um estágio avançado de
representação na nossa democracia em que poderíamos arrotar aliviados: o
crime não compensa.