JUIZ LADRÃO
10 de Outubro de 2005
O juiz Edilson finalmente veio confirmar o
que já se sabia: todo juiz de futebol é ladrão.
Por prejudicar reiteradas vezes os nossos
times. Já sai de casa mal-intencionado, anotando na cabeça com que
jogador vai implicar, determinado a punir a viadagem do cai-cai,
expulsar o primeiro que ousar peitá-lo e assinalar faltas que só ele
viu. Fazendo jus a que sua mãe seja homenageada e a levar um soco nos
cornos, como deu a Enciclopédia Nilton Santos em Armando Marques. De
olho no relógio, vende sua alma para marcar o pênalti que entregará o
campeonato para o cartola que pagou mais.
Ao se afogar em dívidas contraídas no
bingo, o juiz Edilson foi obrigado a vender jogos para o empresário
Gibão obter lucros em seu site de apostas. É por essas e outras que o
jogo não é permitido aqui, o brasileiro é propenso à armação de
resultados. Cassino, loteria e pôquer existem para ganhar dinheiro e
valorizar a noção de risco, e não ficar na mão de amadores que afirmam
ser a prisão a sua segunda casa.
O juiz Edilson já se encontra em liberdade por não se tratar de
crime hediondo. Como não? Rebaixamento para a segunda divisão é estuprar
a alma do torcedor. Roubar a conquista iminente do título é merecedor de
apedrejamento como os muçulmanos fazem com as adúlteras. Só pode ser
fruto de uma manobra conspiratória de Zé Dirceu, Delúbio e Valério para
desviarem o foco da crise de Lula.
Compreensível o aficionado pirar e misturar os canais,
injuriando os juízes do STF. O coronel Pantoja foi libertado para
aguardar em casa o julgamento da apelação da pena de 228 anos de cadeia,
por liderar a execução de dezenove sem-terra em Carajás, em 1996. Por
que tanto prurido em não cometer injustiça tamanho é o castigo que
transcende a imortalidade? Já se transcorreram nove anos nas delongas
processuais, os bons antecedentes de um coronel valem como lei e os
mortos que se virem na sepultura.
O juiz Edilson, antes do apito inicial de cada partida, se
notabilizava pelo ritual de beijar santinhas e elevá-las ao céu para lhe
dar sabedoria e chegar a um bom termo no desfecho de disputas das quais
dependia para construir uma sólida e bela carreira.
Hoje Edilson virou sinônimo de palavrão para xingar o árbitro
nos estádios, quando ele simplesmente falha na interpretação da regra.
Nada como a voz do povo atuando como num Coliseu a punir os culpados com
uma presteza que embasbaca o Poder Judiciário, na certeza de que a
verdadeira justiça somente prevalece depois da morte.