ANTROPOFAGIA
11 de Julho de 2005
Ainda pairam no ar refluxos das
influências do Manifesto Antropofágico de 1926, elaborado por Oswald
de Andrade, propondo que o Brasil devorasse a cultura estrangeira e
criasse uma cultura revolucionária própria. A deglutição do Bispo
Sardinha pelos caetés, como mote. Considerar as culturas negra e
indígena como bárbaras, se confrontadas com o beletrista modelo
francês, era desperdiçar o que havia de mais original num povo em
formação. Na cultura plural, o caminho das pedras para ser livre,
criativo e irreverente.
Companheiro Zé Dirceu! Companheiro Genoino! Companheiro
Gushiken! Tesoureiro Delúbio! Secretário Sílvio Pereira! Caíram em
desgraça, em virtude do patrimônio do Carequinha ter se multiplicado
estratosfericamente nas relações com o governo. Foram derrubados
como pinos de boliche.
Os
companheiros estão devorando o presidente Lula, acabando com seu
governo. Num antológico banquete antropofágico, quando pretendiam
implantar uma República com caldo de cultura popular às custas da
fome zero. O bispo Sardinha, pelo menos, foi comido pelos inimigos.
Prejudicando irreversivelmente a imagem do governo num
futuro que se projetava ambicioso, com a descrença de seu eleitorado
em sua capacidade de representá-lo na proposta de mudança. O
quarteto mais influente agora se compõe de Palocci, Thomaz Bastos,
Renan Calheiros e Sarney, depois de não ter conseguido levar Delfim
Netto para as Comunicações.
O dilema de Lula entre não saber de nada e passar por
alienado ou saber de tudo e passar por conivente. Entre deslumbrado
ou omisso. Entre confiar demais nos companheiros ou não ter peito
para dar um basta. Entre viajar nas asas do aerolula ou ler o
contrato antes de assinar.
Diga-me com quem andas que eu te direi quem és. Despir-se do
mito para ser estadista. Descobrir que o discurso é falso se não pôr
em prática o que o povo espera. Não há casamento que resista se
mudar de camisa na hora de fazer amor.