NAPOLEÃO
11 de Julho de 2005
Roberto Jefferson esfrega as mãos de
satisfação diante do que revelou sobre o charco adubado por homens
públicos que não distinguem a relação dos interesses públicos com os
privados. A tsunami cresce em direção à alta cúpula do PT, que não
mediu meios em seu projeto de poder. Com jactância, julgaram que pôr
o cantor lírico no bolso seria fácil, para quem fez luta armada no
Araguaia. Pelear na democracia exige mais tutano do que dar tiros, a
bancada da bala que o Jefferson faz parte, que o diga. Arriscando
sua própria pele, põe à prova nossa democracia com o escrúpulo
característico de quem trata política como a arte dos negócios -
todo homem tem seu preço.
Acusa todo mundo na Câmara para deixar deputados e homens da
mala em suspeição, jogando lama sobre lama para desviar o foco da
investigação. Explora a extrema volatilidade dos políticos ao
trocarem de partidos, especialmente os que constituíam a base do
governo que dobrou sua bancada.
O que lhe valeu um olho roxo provocado por um
armário de sicupira - com jeito de nocaute -, ao vociferar sobre o
assunto que mais conhece: sonegação de gastos de campanha. Inclui-se
entre os que fraudam. Se considera igual a todos. Como se a lógica
do ser humano, como paradigma de seus representantes no Congresso,
se guiasse pela fidelidade zoológica.
Fala com autoridade por ser conhecedor profundo das entranhas
do esquema PC Farias. Sempre deixam um rabo, como o de se hospedar
na suíte presidencial de hotel de luxo às vésperas do Natal. Ou
investir o genro como administrador de negócios escusos que o
político arregimenta e fatura.
O PT sempre foi reconhecido como partido da caça às bruxas em
nome da moral e ética. Até chegar no poder. Em nome da
governabilidade, as más companhias se apresentam como “chapeuzinho
vermelho” para comer o lobo que se investe no poder na condição
obrigatória de transformar o país. Para isso são eleitos. Mas há que
pagar pedágio para os projetos serem aprovados em favor da turma que
cobra caro para o país sair do atraso. São os guardiões da
ignorância, para que eliminar a corrupção se a visão que têm da
sociedade é o bem-estar de sua família e agregados que se aproximam
por interesse?
“Quanto mais poder, mais cuidado ao abrir a boca”. Finalmente,
o presidente Lula caiu na real, lutando para sobreviver e não se
transformar numa rainha da Inglaterra. O Jefferson agora pauta as
demissões de dirigentes de estatais com suas denúncias. Lula não
pode se fazer de tolo e ingênuo como Genoino, que assina contratos
de empréstimos ao PT sem ler, por confiar no tesoureiro Delúbio,
tendo como avalista um carequinha que enriqueceu à custa de
contratos vultosos de propaganda do governo - o contrato tem a nossa
impressão digital.
Nem pensar em impeachment, pois o povo vai mal mas a economia
passa muito bem - o melhor desempenho desde o Plano Real. As 500
maiores companhias não querem derrubar Lula, pois só discriminariam
suas metáforas se estivessem perdendo. Mas a economia está descolada
da política, e isso é o que interessa. Quanto ao Congresso,
desmoralizado pelos mensalões, se acovarda e se encolhe diante da
investidura de Jefferson em herói por soltar tantos podres,
verdadeiros traques, na cara do povo brasileiro.
Quando atearam fogo na senadora Heloísa Helena por infidelidade
partidária a seu projeto de poder, lembraram a Revolução Francesa. À
perseguição inquisitorial dos inimigos do regime, seguiu-se o
guilhotinar de seus mandantes. O equilíbrio no poder político se
desfez em mil pedaços e surgiu Napoleão.