TESÃO OU AMOR?
13 de Junho de 2005
Pode existir tesão, pura e simplesmente,
que perdure sem que o amor se intrometa para atrapalhar a pureza do
instinto? O ideal seria a combinação dos dois. Ora, se ideal existisse, a
filosofia estaria morta, ao invés da Inês. E se prolongar, vira caso? Por
anos, um caso mal resolvido? Um relacionamento, ainda que o homem não
admita? E por que não amor? Ah, não é isso que eu sonhei para a minha vida.
Ora, vá procurar sua turma! A manutenção do tesão implica em pensar que há
algo mais... o amor. Mas se tentar definir muito, o tesão se vinga e
desaparece.
Então ficamos combinados assim, viva o tesão e deixa o amor em
paz. Mesmo porque sentir tesão não é pouca areia pro seu caminhão,
um hors-d’oeuvre
que vale pelo banquete.
Há quem ache:
com o tesão na mão, para que grilar com o amor? Se os habitués
em matrimônio sentem inveja, perderam contato com a mágica e nutrem
um medo de pôr em risco o lar construído. Não que o tesão seja a
solução, mas amor sem tesão se equipara ao declínio da relação, a
não ser que se busque outros valores que não cabem nesse buraco sem
saída.
No tesão se vislumbra o amor, perigando quando se precipita
a desafinidade de espíritos, se descobrirem que dois bicudos não se
beijam. Mata a ilusão na raiz. Em compensação, se o tesão conseguir
acavalar o amor, aleluia!
No sentido vulgar, tesão está vinculado a promiscuidade.
Putaria versus puta mulher, já que poucos homens seguram a onda
desse querer, tal a volúpia que neles desperta. Surtam na
possessividade, varados pelo ciúme sonâmbulo, paranóicos com a
chance de recuperação. De parar de pensar que estão dominados, ou
que perderam o eixo. Ainda mais quando esse desejo não está
vinculado a corpo bonito nem rostinho lindo, fator de escolha no
qual a rapaziada prefere se afogar para não mergulhar em águas mais
profundas - que já provaram ser o paraíso.
Como você vai enquadrar o tesão no relacionamento do dia-a-dia?
A intumescência numa refrega com o molhado, para ver quem come o
outro primeiro, esfrega daqui, agarra dali, o amor animal que
apavora. O desejo de se permitir gozar com a cabeça aberta, ele
igual a um bicho e ela, a fera, em igualdade de condições. As
mulheres conseguem, sem o menor temor das conseqüências que cedo ou
tarde aparecerão, até para testar suas convicções. No ápice do
desvario, debocham quando tachadas de taradas, equiparadas a
ninfomaníacas.
O tesão amoroso está sujeito a cortes que dão na veneta de
moralistas que perderam sua vez e hora. Regulados pela ordem natural
das coisas, que aceita apenas o assanhamento entre quatro paredes,
já que as manifestações explícitas de paixão sexualizada constrangem
quem está a zero.
A evolução civilizatória nos distanciou do primata, que
procurava coadunar seu instinto com o cio da fêmea, sobrando pouco
espaço para escolha; um condicionamento a caminho da submissão que
não era infelicidade. Ainda.
O dicionário amoroso hoje não consegue definir os diversos
gêneros de relacionamento. O tesão como condutor do amor não é capaz
de consolidar relações não-matrimoniais, transfere o êxtase para o
dia escolhido, onde se rejubilam. Com amor. Mas por que não pode ser
assim todo dia?