MULHER DE MALANDRO
13 de Junho de 2005
Mesada de trinta dinheiros a deputados da
base em troca de apoio ao governo. Jefferson, apesar de ter feito
cirurgia de redução do estômago para ficar menos balofo, não
conseguiu diminuir seu apetite. Os suspensórios de Eurico Miranda
cairiam como uma luva em sua cara enfezada que adora cantar de galo
e desafiar os donos do poder como patrão do seu partido,
especialista em organizar tropas de choque. Chora, Lula, chora, o
cheque em branco entrou pro folclore, jogou no lixo o patrimônio
ético do PT.
A democracia brasileira só permite governabilidade na base de
troca de favores ilícitos, fazendo os governos reféns de traidores
do povo que se elegeram para representá-lo, e não para transformarem
o Congresso num valhacouto de figuras patéticas que se apoderam da
coisa pública e tornam instrumento particular nas nossas barbas.
Reduz-se o eleitor à posição de órfão em razão da democracia
imberbe, sem saber o que fazer com tanta liberdade de expressão, se
as garras da justiça não alcançam a tábula rasa do poder
legiferante, ocupado em aumentar a renda familiar com o nepotismo.
Presta-se um desserviço ao regime denegrindo os políticos: são todos
iguais, independentemente do partido ou da linha ideológica que
defendem. E nos coloca no lugar de mulher de malandro, que apanha,
apanha, mas não sai de perto, porque não tem outra opção.
Do que o homem
público tem mais medo é a quebra do sigilo bancário, basta passear
pelas contas que se descobre no trânsito um paraíso fiscal, pérolas,
laranjas, aviões, êxtase, um livro aberto para desvendar a natureza
psíquica desses estranhos seres que chegam ao poder. Bastou chover
investigação para lavar a lama de denúncias de suspeitas que
pairavam sobre o governo, para acuar Jefferson e levá-lo a oferecer
champanhe aos jornalistas que queriam ouvi-lo. Num misto de “sabem
com quem estão falando?” com a finura de um aristocrata brega - o
que fazer para calá-los, ó dúvida atroz!
O carisma de Lula versus um deputado notório por negociar
cargos. Saiu atirando para tentar se salvar e atingiu o plano de
poder de Lula que, pouco a pouco, como um castigo do céu, é
empurrado para sacrificar a reeleição e governar sem fisiologismo.
Ou, então, o medo terá vencido a esperança, com uma política
econômica exaltada por todos, menos por 55 milhões de pobres. Com
tanta fome, vai ter indigestão.
O indômito Jefferson assim agiu porque sabe que vai ser
dejetado da vida pública. Seus colegas de corporação afiançam que
ele está morto porque cuspiu sobre a magnanimidade da classe
política, que não admite que sua honra seja enxovalhada sem mais nem
menos. Pois desestabiliza o país, contaminando a economia e criando
um quadro de ruptura: não serve aos interesses dos políticos o país
quebrar a cara.