PAÍS DO CARNAVAL
14 de Fevereiro de 2005
Carnaval é bom porque não cabe censura,
pode se dizer o que quiser, tomar um porre de felicidade e comprar
na rua da Alfândega a máscara da governadora do Rio. “A máscara diz
mais que a face”, segundo Oscar Wilde, processe-o Rosinha! O bloco
“Simpatia quase Amor” revela os dois pentelhos que nos incomodam:
velho assanhado e menino precoce.
O único mito que ainda se respeita é Jesus Cristo, quando o
marketing de sua imagem, através das escolas de samba, ampliaria a
leitura de sua trajetória ao sabor da interpretação de carnavalescos
que transformaram em pó a tese do samba do crioulo doido – Joãosinho
Trinta, à frente, o papa do samba, o nosso João de Deus.
Na verdade, o Carnaval foi aberto em Porto
Alegre no Fórum Social Mundial, com carros de som que entoavam coros
como “Ô Lula, cadê você, o seu governo é igual ao FHC” e “Ô Lula,
que papelão, não acabou com a fome e dá dinheiro pro patrão".
Inebriado com os salões do poder, Lula confunde Kirchner com
Menem, a exemplo do que faziam presidentes americanos com Brasil e
Argentina. Sem se dar conta que a política econômica enterrou o
conceito de companheiro. Como comandante da cruzada contra a fome
num país de obesos, chamou a tsunami de “vendaval que deu na Ásia”.
Em ritmo de carnaval paulista, só falta trocar as bolas abraçado ao
Washington Olivetto, chamando Tevez, do Corinthians, de Maradona.
De olho na eleição para a presidência da Câmara e valendo-se
das mulheres dos deputados como cabo eleitoral, o pernambucano
Severino Cavalcanti reclama do povo que os trata com desprezo e
desdém, quando se encontram sem condições de arcar até mesmo com as
despesas básicas, sacrificando suas famílias. Foram 40 anos de vida
pública pagando dívidas de campanha, adotando filhos e netos do toma
lá, dá cá. Saudades do Carnaval dos tempos de Calígula!
O corporativismo do jornalismo mereceu a homenagem do bloco
“Imprensa que eu gamo”, através do americano que não entende de
garota de Ipanema nem gosta de cachaça, e muito menos do nosso
presidente. Larry Rother bem que merecia cartão vermelho, mas se ele
for gay, o paraíso é aqui, “vem descobrir o feitiço dessa gente”,
singrando em mares bravios... construindo o futuro - o enredo da
Unidos de Vila Isabel.
É carnaval o ladrão armado invadir a casa de William Bonner e
Fátima Bernardes e não reconhecê-los. Só pode ser brincadeira não
saber o que fazem os apresentadores do Jornal Nacional. Não se
admite analfabetismo televisivo num país que se orgulha de ser o
maior produtor de novelas do mundo..
O mundo não teria desabado sobre a cabeça de Luma de Oliveira,
se ela tivesse a coragem da Vera Fischer. Se paga um preço alto para
se casar de véu e grinalda. É o momento em que o carnaval e o amor,
juntos, num abraço amargo, choram as mágoas. De uma pureza d’alma
perdida.
Quando o sonho de todo bebum é virar gênio para morar dentro da
garrafa.