PRECONCEITO
14 de Março de 2005
Severino tem reclamado de preconceito
contra sua esposa, a mais feia no painel das celebridades políticas
de Brasília, se somado o peso acima do que a roupa mal consegue
cobrir. Perto dela, a Camilla do príncipe Charles é uma sereia. De
quaisquer formas, vã a tentativa em definir se aceitarmos a
bipolaridade de tudo que compõe a vida, se o céu e a terra se
alternam ininterruptamente, bem como sim e não, positivo e negativo,
e beleza e feiúra.
A grosseria, no entender de Severino, começou no tratamento
dado pelos chargistas que o delinearam como um macaco ou lembraram
sua infância como lavador de cavalos. Não se justifica o revide por
conta da mamata do aumento dos salários dos deputados, do bloqueio
dos bens do corregedor da Câmara pela Justiça, de ser recebido
apoteoticamente em “Pernambuco agora é o poder, é Lula lá e Severino
cá”, ao som de “Eu quero mais”, seu bloco de carnaval. Farra a que
não faltaram Maluf e Agnaldo Timóteo espanando as cinzas.
Quem com preconceito fere, com ferro será
ferido, ô bonitão, diriam os gays, diante da lavra de Severino: “O
que é ruim é fácil de proliferar, quem de bom senso defende a união
de homem com homem? Desencaminha a juventude".
Não existe feiúra, basta se cuidar que o panorama melhora. Os
esteticistas afiançam que mesmo as bruacas têm jeito, está por cair
o tabu do patinho feio. Não é por outra que as mulheres estão saindo
em bando congestionando o mercado afetivo. Mas Dona Amélia, por ser
mulher do Severino, não precisa. Corresponde à expectativa de seu
marido de devotar-se à família e esquecer que existe vida fora de
Severino.
Ora bolas, se não se puder falar mal, fofocar, que seja, a base
que sustenta o preconceito não será demolida. O pensamento
politicamente correto não tem fôlego para combater o anedotário do
preconceito. As piadas e incivilidades se iniciam quando quebradas
as promessas de campanha, notadamente aquelas que o levaram a se
eleger e que de antemão sabia que não iria cumprir. A democracia
ateniense, tão elogiada, resolvia com ostracismo ou até mesmo com
cicuta.
Como não poder falar do topete do Itamar fulo com o furto da
autoria do Plano Real? Da pavonice de FHC durante o seu reinado, que
chegou calar Dona Ruth? Da derrota de Garotinho e Rosinha na batalha
contra a obesidade que pôs suas vidas em risco? Do fato de Pitta só
escolher mulher loura. Do verbo malufar ingressar no dicionário como
desvio. Do olho esbugalhado de Collor. De Lula filosofar ao sabor do
mito para os metalúrgicos.
Se não se puder comentar isso e aquilo à boca pequena é
censura. E associar Severino à pré-história? Aí não é brincadeira,
falando sério. Pernambuco, quiçá o Nordeste, declaram guerra, ainda
mais com dois presidentes à cabeça do país. Odioso preconceito? Mas
se o governador Jarbas coleciona miss e a práxis política de
Severino consiste em ter livrado da cassação Eurico, o Salazar do
Vasco.
Os preconceitos existem para serem destilados à custa de
celebridades e figuras públicas que se expõem e se submetem ao crivo
da opinião pública que exercita nelas tudo aquilo que assombra. Para
imitar ou repudiar.