DÊEM-ME A CABEÇA DE ZÉ
DIRCEU
15 de Agosto de 2005
Dêem-me a cabeça de Zé Dirceu. Quase uma
unanimidade a afrontar sua arrogância - agora a querer disfarçar - com
que comandava o aparelho político que instalou na cabeça do governo.
Afundou dentro do seu próprio mar de entranhas, que revelou um coronel
do sertão a gerenciar o seu curral eleitoral do tamanho do Brasil para
se manter no poder sabe Deus até quando. A se arrastar como uma cobra,
mexendo com seus pauzinhos que nem um Golbery. Um bruxo que só pensava
em seu governo, um maestro que afinava o coro alugando os partidos
políticos para darem sustentação ao presidente. No entanto, Roberto
Jefferson não gostou de ser tratado como prostituta. Queria mais. Seu
idioma é o de intermediar fatias do poder, seja ministérios, cargos em
estatais, participação em fundos de pensão, buscar recursos de caixa 2 e
funcionar como trem pagador.
Assim como não apetecia a Lula a cozinha do governo,
deslumbrado com o status de líder na cruzada contra a pobreza, Zé Dirceu
também ficou longe das malas de dinheiro e da transfusão de sangue nos
intestinos da organização. Preocupou-se tão-somente com que a gestão da
origem dos recursos a serem arrecadados e a sua destinação estivessem a
cargo de um verdadeiro profissional, com experiência de varejo.
E lavou as mãos. Respaldado pelo seu preparo e
inteligência que lhe conferem um orgulho acima das coisas terrenas.
Pensou que sua trajetória de luta armada em prol de uma ditadura do povo
fosse passado morto. Ganhou uma nova cara - já não era mais virgem de
rosto - com o restabelecimento da ordem democrática e veio a sair da
encolha no governo Lula. Sem o menor pejo de jogar na lama o título de
campeão da moral e da ética com que o PT batia no peito. A ponto de
conquistar o reconhecimento impossível, uma reputação partidária
invejada até pelo Enéas.
Mas a maior traição a princípios aconteceu debaixo do nosso
nariz. A trinca Lula, Palocci e Meirelles tecendo uma política econômica
tão do agrado do governo norte-americano e dos mais empedernidos
inquisidores das CPI’s dentre tucanos e pefelistas, defendida com a faca
nos dentes por eleitores que só votam pensando na sua carteira de ações
e na estabilidade do mercado.
Quem começou a trair primeiro, Lula ou Zé Dirceu?
Não existe a figura de impeachment para quebra de decoro do
presidente correlacionada a promessas e compromissos não cumpridos com
53 milhões de eleitores, privilegiando superávits e juros em detrimento
de saúde e segurança.
Seus inimigos vão fazê-lo sangrar para chegar fraco e
desmoralizado nas próximas eleições. Até como vendeta, para nunca mais
elegermos um presidente que sirva de exemplo para as camadas mais pobres
pretenderem ascender ao poder. A eleição de Lula foi uma ofensa ao clube
da elite, que teve de engolir calado.
Tomaram um susto à toa. Antes de findo o mandato, Zé Dirceu
afundou o governo Lula ao fundar uma nova linha comportamental para os
companheiros do PT no processo de acomodação aos companheiros de
alianças partidárias. De tão pragmáticos, quiseram ser mais realistas
que o rei e se desvirtuaram. Prestaram um desserviço à evolução da
democracia ao inserirem Marcos Valério, dona Renilda e seus treze
cavalos no nosso voto.