MAURICINHOS NA POLÍTICA
17 de Janeiro de 2005
O Colégio do Caraça já teve tradição na
história da educação, como o mais famoso e cobiçado de Minas, cuja
rigidez e disciplina teciam uma severa moral pautada por uma
religiosidade no mais clássico latim, orgulhando famílias diante do
caráter impregnado em seus filhos. Um legado presente na formação de
juristas, políticos, chefes de clãs que construíram uma maneira de
ser homem que impunha respeito, austeridade e ilibado saber. Pelas
venezianas de janelas fechadas e frestas de portas entreabertas, o
Colégio do Caraça tencionava revestir de honra e brio o estudante
cuja ingenuidade demandava um escultor para esculpir um tesouro: um
exemplar pai de família, provedor, clerical, sábio juiz, um cultor
da virtude. De seus bancos saíram pessoas ilustres no cenário
brasileiro como os presidentes Afonso Pena e Artur Bernardes,
dezoito governadores de Estado e dezenas de senadores e deputados
mineiros.
A influência do Colégio do Caraça no refinamento desses
costumes já se fazia sentir no tempo do império na formação de
lideranças políticas em contraposição à maré de ambições
desencadeadas pelo ciclo do ouro que ameaçavam desagregar a
sociedade mineira, querendo descaracterizar seu espírito de bom
senso, moderação e equilíbrio. Atento ao resguardo da unidade da
República do separatismo, em seu invólucro conciliador, o Caraça
tentava a mágica de ser conservador sem transparecer retrógrado.
O Colégio do Caraça como o perfil psicológico a
ser adotado pelos mauricinhos na política. Indicativo de uma frente
única que está sendo organizada contra Lula visando as eleições de
2006. A exemplo da brigada comandada por Cesar Maia contra Garotinho
quando desencadeou uma campanha suprapartidária e sem ideologia,
vestindo uma hidra de setes cabeças no clã Garotinho que se encaixou
como uma luva. Não que o Garotinho não merecesse, com suas políticas
de pudim a um real, só que Caesar usou das mesmas armas empregadas
no discurso de crente da Rosinha em campanha, maniqueizando na
figura do diabo o que o garotinho acabaria por fazer com o lindinho
do Lindberg. Dai a Cesar o que é de Cesar exalta a figura do
autocrata que não respeita partidos e se aproveita da liberdade
partidária.
A idéia dos mauricinhos é anular o carisma de candidatos, secar
a demagogia e pasteurizar o discurso crente. Política vai significar
administração eficiente, a boa gestão o grande diferencial, o
orçamento no azul, os pagamentos em dia, incluindo os juros da
dívida. Na linha de frente, Alckmin, adepto de Santo Agostinho, o
não tão comportado Aécio, que anuncia déficit zero na herança de
Itamar nos aviões que chegam a BH, e Jeressaiti, aquele que não pode
dizer tudo que pensa como Ciro Gomes e falar mal do Sul-maravilha ao
ter sido preterido pelo antipático do Serra - posição pessoal do
saidinho FHC. Trocar de marido em plena gestão de prefeita, nem
pensar, senadora de jeans no Congresso, só no Rio que elege
Benedita, bispo crente que chuta santa é fazer figuração. Presidente
da República é coisa séria, tem que ter gabarito, o povo não pode
eleger tangido por uma mera fascinação, de messias o mundo osama o
céu de Nova York.
Mauricinhos irmanados na democracia de ser rei, curvados aos
desígnios do dirigismo dos detentores da ordem econômica, com
direito a mausoléu de imortal. Falta-nos um longo percurso para
alcançarmos o nível da democracia ateniense, quando condenaríamos ao
ostracismo os políticos que nos tratassem como uma Maria Madalena.
Pena que nos faltem ilhas como as Malvinas, as nossas são
paradisíacas.