WOODY ALLEN
21 de Março de 2005
Woody Allen não comporta meio-termo, ou
você é apaixonado pelo universo que ele apresenta a cada filme ou se
antipatiza, rejeitando-o até a quinta geração. Ou você se torna
cativo de suas elucubrações freudianas ou despreza aquela lombriga
com ar de retardado gaguejando coisas inteligentes. Os que babam
seus ovos são os mais elitistas: “quem não gosta de Woody Allen é
burro".
Afinal de contas, Woody Allen é louco, neurótico, psicótico,
hipocondríaco ou gênio? Maluco beleza nem pensar, teria uma embolia
com as drogas. Onde é que ele arrumava tempo para enfiar tanta
cultura naquele cérebro ocupado pela supermãe, só perguntando à Mia
Farrow quando ela adotava uma penca de filhos durante o
relacionamento aberto com o judeu vivo mais inteligente do planeta -
honraria ainda não lhe conferida.
Mas como? Se
Mia Farrow o enquadrou como um pedófilo por ter se separado dela
para casar com sua filha adotiva, a coreana Soon-Yi Previn.
Desconsiderando sua evolução desde “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”
ao ganhar o Oscar. Mas se no currículo de Mia consta: filha de
Maureen O’Sullivan, a Jane do Tarzan; ex do já velhusco Sinatra; nos
remeteu ao hospício em “O Bebê de Rosemary”; acumulou catorze
filhos, sendo nove adotados; em sã consciência, escolha quem é o
pinel.
Que confusão dos diabos, não se pode misturar ficção com
realidade. Isso é esquizofrenia pura. Mas como? Se em “A Rosa
Púrpura do Cairo” o ator sai da tela e convida a fã - Mia Farrow - a
se incorporar ao universo do filme que via repetidas vezes, deixando
o mundo real e entrando no da fantasia. Se Woody Allen em “Zelig”
não consegue ser ele mesmo, pois tinha o dom de se assemelhar física
e mentalmente a quem estivesse em sua companhia. Se ele se juntou a
“Trapaceiros”, dando “Tiros na Broadway” em sua querida “Manhattan”
e dizendo “Poucas e Boas” a “Celebridades” sobre seus “Crimes e
Pecados”, por que não revelar “Memórias” de seus “Interiores”?
Humilha a indústria cinematográfica em “Dirigindo no Escuro” quando
fica cego, dirige um filme e ninguém percebe - em terra de cego,
quem tem um olho é rei.
O conjunto da obra de Woody Allen começa a incomodar até
seus mais fiéis admiradores, insistindo no “já deu tudo que tinha
que dar”, torcendo o nariz para as sessões de psicanálise, não
agüentando ir para o divã nos filmes, com um humor devastador que
não perdoa a nossa pobre condição humana. Não aceitam mais ser
prisioneiros de sua arte. Brinca demais com o alter ego que pode ser
ele, nós, tu e eles, o judeu ortodoxo ou o babaca que não gostamos
de ver retratado. Tripudia em excesso sobre a inaptidão para o sexo,
seja no tocante à freqüência, manejo ou incompatibilidade, enfim,
tudo que você sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de
perguntar. Acusam-no de verborrágico ao despejar seu humor corrosivo
sobre a sociedade americana, pouco se importando com chefões que não
o consideram mais lucrativo. Especialistas em decretar o ostracismo
de estrelas que não conseguem mais digerir, tachando-o de chato e
ultrapassado.
Woody Allen se encaminha para virar um parque temático de
seus filmes.