O CÂNCER DA SEGREGAÇÃO
21 de Novembro de 2005
A periferia versus o centro de Paris.
Bastou o ministro Sarkozy chamar de escória jovens imigrantes, oriundos
das Áfricas negra e muçulmana, para acender o rastilho de pólvora e
incendiarem carros, escolas e lojas, num quebra-quebra que deixou no
chinelo os conflitos de maio de 1968. Se antes a revolta era um
movimento contestatório da juventude contra a sociedade dos seus pais e
avós, hoje é para desmascarar a globalização que não emprega e para dar
um tapa na cara da Europa que se une mas segue discriminando a “raça”
dos imigrantes, mesmo sendo cidadãos franceses.
Os jovens formam uma segunda geração de
imigrantes que encontra muitas dificuldades na integração. Geralmente,
já perderam a ligação com a terra natal e, o que é pior, se sentem
desenraizados no novo país. São alvos perfeitos para se polarizar uma
onda extremista ou terrorista, reforçando o preconceito de
conservadores. E isso pode acontecer em qualquer lugar, se não houver
respeito às diferenças e as nações não lutarem contra a intolerância, a
irracionalidade, a xenofobia e o racismo.
A França confessa que não tem uma força
policial que reflita a sua sociedade, com a falta de diversidade étnica
em todos os ramos da corporação. Isso reduz a sua credibilidade nos
bairros com grande concentração de imigrantes. Poucos policiais são
originários da própria comunidade e conhecem sua linguagem e seus
códigos de comportamento. Fato esse que não se constata na polícia
americana, que integrou negros e latinos aos brancos, até para facilitar
as investigações e propiciar uma maior segurança à propriedade privada -
a preocupação maior dos Estados Unidos. Ao extirpar o câncer da
segregação racial e recrutar policiais de todas as origens, colocou a
discriminação sob a vigilância da lei.
A Europa vive o dilema de assistir passivamente ao encolhimento
da sua descendência. Em virtude de simplesmente não suportarem criar uma
prole tão grande. O oposto de muçulmanos e africanos, que vão cada vez
mais povoando o mundo e explorando a inapetência dos europeus pelo
trabalho não-qualificado.
Quanto às melhores oportunidades, a prioridade é para os que
são da casa, os nativos da Europa que se civilizaram na seqüência do
Império Romano. O resto vem depois. Mas se dois corpos não podem ocupar
o mesmo espaço e a diversidade étnica avança inexoravelmente, não convém
tapar o sol com a peneira justamente no berço da cultura contemporânea.