A ÉTICA DA OPOSIÇÃO
22 de Agosto de 2005
O Brasil não consegue evoluir sem se
livrar do demônio da corrupção. Capaz de destruir redutos intocados da
ética. Atraindo os delfins da moralidade. Como no getulismo dos anos 50
até Juscelino e no janguismo dos anos 60 até o golpe de 64, na busca por
um regime de mãos limpas através da UDN e da classe média com bandeiras
moralistas. Nadamos, nadamos e morremos na praia na luta contra a
desigualdade, em favor da distribuição de renda, na radicalização da
democracia para alcançar a independência e o maior acesso à informação,
permitindo ao cidadão tornar-se mais livre. E não vamos muito além de
ser ou não ser honesto, eis a questão. Quando as questões são pra lá do
Bem e do Mal, pois o moralista de hoje pode ser o bandido de amanhã.
Acostumado a lidar com diversas linguagens na arte, o
economista Arnaldo Jabor decreta que não há hoje em dia alternativa ao
capitalismo, qual seja o adotado por FHC ou por Lula, baseado na
falência de duas antigas virtudes: a fé e a esperança. Sentimentos que
não cabem num mundo que banalizou o pensamento único. A globalização
pasteurizou a macroeconomia e manteve a desigualdade que corrompe os
políticos e os brasileiros. Compelindo-nos a voltar para o banco da
escola e aprender ética, moral e história de nossa etnia, com o objetivo
de cortar as cabeças certas. É preciso co-governar, com o cidadão
constantemente fiscalizando o governo eleito. Perdemos completamente a
confiança nos atuais políticos. À semelhança dos presídios modernos que
controlam o comportamento dos presos através de circuito interno de TV,
a movimentação bancária dos parlamentares teria que ficar disponível na
internet.
O voyeurismo abalando um dos pilares da
democracia: a privacidade. Caso contrário, ficamos sujeitos a
impeachment. Agora que virou moda depois de Collor, enquanto FHC passou
batido. Melhora o nível de investigação e de perspicácia dos
inquiridores. Nos deixando com a pulga atrás da orelha de qual será o
próximo a ir para o banco dos réus.
Lula não pode se considerar traído por José Dirceu, pois ele o
conhecia muito bem e sabia do que era capaz. Um aparelho montado para
ganhar eleição, sustentar aprovação de projetos no Congresso e prever um
fundo partidário destinado à reeleição. Enquanto o eleitor jaz empalado
por uma política econômica que não se renova e segue matando de fome o
desejo dos carentes em ser um dia uma pessoa digna de viver em
sociedade. Os economistas têm orgasmos com superávits, responsabilidade
fiscal e aumentar imposto, jamais fazendo conexão com o Estado de
insegurança que se espalha pelo Brasil.
No entanto, trocar Lula por Severino corresponderia ao
Congresso dar um tiro na cabeça. Dar um fim ao que lhe resta de
credibilidade. Quando basta dar corda para Lula se enforcar sozinho e
cuidar para que a economia não naufrague. Para Lula chegar mortinho nas
eleições. Um belo exemplo de ética da oposição que não disfarça o temor
do apoio popular a Lula. Pena que essa sensibilidade não esteja a
serviço do cidadão.