CHANEL
23 de Maio de 2005
Mademoiselle Gabrielle Chanel foi a maior
revolucionária da moda no século XX, se orgulhava de ser a primeira
a viver em harmonia com o século XX, antenada com o porvir de uma
era que fez das tradições cinzas.
Coco Chanel libertou o corpo da mulher. Para queimarem os
sutiãs e inaugurarem o feminismo, as mulheres precisaram da Chanel
para libertá-las dos torturantes espartilhos e dos complicados
penteados a que até então haviam se submetido. Fazendo a mulher
crescer no seio da sociedade, graças à elegância francesa. Criou o
estilo garçonne, cabelo curto e gomalinado - o corte chanel.
Chanel limpou os excessos dos anos 20, tirando o
mistério e a complexidade da mulher para lhe dar liberdade para
voar. Era preciso ter o corpo mais livre para dançar o charleston.
Chanel não sabia desenhar e criava direto no corpo das modelos.
Começou por roupas de jérsei, tecido leve usado na roupa de baixo
masculina. Cortava como t-shirt, mesmo sendo vestido de noite com
renda e bordados.
Filha de mascate falido com camponesa, ficou órfã de mãe aos 11
anos, seguido pelo abandono do pai e remetida ao convento de Aubazin
junto com as irmãs. O uniforme preto as identificava como sem
recursos para sobreviver, o que a inspirou a criar o tailleur em
1920 e o pretinho básico em 1926, uma moda que veio para ficar.
São de estarrecer os demais ícones da marca Chanel: os colares
de pérolas com pedras preciosas e bijuterias, a camélia, o sapato
bicolor bege e preto, elegantérrimos chapéus, vestidos de noite
divinos, a bolsa de matelassê com alça de corrente dourada e o
perfume Chanel nº 5 - eternizado por Marilyn Monroe. O
prêt-à-porter.
Colecionou amantes, como o Duque de Westminster, que a
introduziu à verdadeira nobreza. Dimitri Pavlovitch, sobrinho do
czar da Rússia, a ensinou a se enredar em peles. No mundo da arte em
que Picasso dava as cartas, Stravinsky foi quem mais a possuiu. Mas
não chegou a se casar. E faz diferença? Um filho, ao menos para
minimizar as dores da solidão e a efervescência da vida mundana que
rareia na velhice, como em 1929, quando criou vestidos para as divas
de Hollywood Greta Garbo e Marlene Dietrich.
Viver ao lado de uma grande estrela é difícil, pois ignora-se
se as pernas se entrelaçam no ego ou na fantasia, o que não impediu
Arthur “Boy” Capel de ajudá-la a abrir seu primeiro ateliê em Paris
e depois em Deauville, facilitando o lançamento de sua primeira
coleção de alta costura, em 1916.
Acusada de colaboracionista na Segunda Guerra, por exercer a
sua liberdade sexual com oficiais alemães, foi submetida à execração
pública e teve seu cabelo raspado quando os americanos entraram em
Paris. Obrigando-a a se exilar na Suíça por dez anos. Mas os Estados
Unidos a retiraram do ostracismo. No lançamento da pedra fundamental
da cultura do descartável, Coco incendiou: “A moda não existe até
que chegue às ruas. Sem as cópias não há sucesso. As descobertas são
feitas para serem perdidas."
Morreu aos 88 anos de uma vida bem vivida, embora sem encontrar
um par à altura. Sem se apegar a ninguém. Sem residência fixa, ou
melhor, no Hotel Ritz, onde morava desde 1934.