FOGO CRUZADO
24 de Outubro de 2005
O referendo sobre o desarmamento deveria
dar lugar para decidir se é da natureza humana matar o seu próximo. Se
precisa atirar para abrir caminho e seguir sobrevivendo. Na legítima
defesa de sua propriedade, aí incluídos bens e família. Para continuar a
gozar do direito de possuir um revólver e entrar para um clube de tiro
ou se valer de seguranças ou vigias armados, diante do fracasso do
desarmamento para conter a violência.
Por outro lado, atire a primeira pedra quem
não se envolveu até hoje em discussões de trânsito, conflitos
domésticos, brigas de vizinho, em decibéis de pagodes. Quem já não
acordou com filhos chegando da boate com a cara amassada? Com o safado
que cisma de dar um brilho no carro com os alto-falantes a todo volume
embaixo de sua janela? A querer compartilhar seu gosto lamentável.
Quando não estaciona na entrada de sua garagem para dar um pulinho na
loja do lado ou mexe com sua namorada enquanto você se alivia no
banheiro. Passa a sua frente na fila do passaporte para ingressar no
país. Quando não entopem-no de mensagens de telemarketing ao telefone e
propaganda no computador. Dá vontade de dar um tiro na cara dessa gente,
né mesmo?
Por outro lado, é passar recibo apelar para
as armas e enfrentar esses selvagens com que somos obrigados a conviver.
Recibo de pirata, viking, gladiador, senhor feudal, cruzado, caçador das
estepes, alexandrino, faraó, caesar, saddam, osama, bush, do tempo de
fazer revolução para o sertão virar mar e pobre buscar o que é seu no
rico.
Por outro lado, os assaltantes não tomarão conhecimento do
referendo, pois o que importa é o caixa 1, a distribuição de renda mais
eficaz e rápida que tucano e petista nenhum até hoje fizeram frente. A
fronteira paraguaia garante a granada e a febre aftosa. As drogas
afiançam os meios para alcançar os fins que fazem os mais ricos votarem
não com medo de que o sim escale o muro de sua casa.
Por outro lado, a população carente sente a violência na carne
ao fugir da bala com destino certo. A arma na mão é o divisor de águas
entre o marginal e o trabalhador, na guerra há que saber viver.
Seja qual for o lado, as mulheres, mais uma vez, decidirão. Se
por um mundo armado que protege seus filhos ou por um desarmamento que
algum dia subtraia o poder de fogo dos bandidos.