PLÁSTICA
25 de Abril de 2005
Quer arrumar uma briga com mulher? Ouse
levantar um senão sobre cirurgia plástica. O paradigma que a conduz
ao panteão onde o retoque final transforma mulata em loura, branca
azeda em jambo. Uma verdadeira corrida em busca do ouro para
lipoaspirar banha, sangue, lama, entranhas, descartar a alma gorda.
Pois não é que conseguiram tirar o humor do gordo que não deixa os
outros falarem.
A restauração a serviço da arte que a torna uma obra divina. A
inserção garantida no sistema de excluídas, à margem ou rejeitadas.
E ai de quem falar mal, um preconceito dos mais repelentes contra as
coroas que se plastificam. Afinal, a transição do peito firme para o
caído é dura, o culote incha descontroladamente, as papas debaixo do
braço balouçam igual a bochecha de buldogue. Se as pernas viram
pernil, olha o passo do elefantinho!
Já com o homem, não se precisa ter esse cuidado
em ferir suscetibilidades. Pode-se ir direto ao assunto. É ferro nas
bonecas! Não tem frescura. Começam a aparecer em fotos de revistas
em operação casada com o cirurgião plástico, “faz de graça que eu
divulgo".
O resultado é um boneco de cera. Retardado. Um sorriso de quem
ganhou na loteria. Mal contendo o frescor da alegria de ter
corrigido também a feiúra no mesmo pacote. Um desafio para médicos
com pretensão a Michelangelo, cujo produto final lembra o Dr.
Frankenstein. Redesenham o perfil como nos cartoons em que o tubarão
vira mocinho e o rato, um gato. Fazem-no jovial e dinâmico, curam a
depressão crônica aplainando a aparência com botox.
Mas o que mais pesa na balança para o homem é o Viagra. A
plástica vai apenas complementar na guaribada. A ambição de viver
mais anos ultrapassa a da mulher em muito, pois acredita se garantir
na potência, enquanto a mulher se abate com o desgaste da beleza e o
terreno perdido na atração.
Mesmo porque o homem pode fingir tudo, ao ser galinha, casanova
ou don juan, mas tem de funcionar.