O COVEIRO
25 de Julho de 2005
Vinicius de Morais disse que se
reencarnar, quer voltar ele mesmo, igualzinho. César Maia não quis
esperar tanto, a emenda saiu melhor que o soneto. Seu filho sonha em
ver seu pai presidente da República e desmentir a previsão de
factóide atribuída a ele. Como deputado federal, denunciou
assessores de deputados petistas em visita à agência do Banco Rural
onde Marcos Valério tem conta e da qual foram sacados 21 milhões em
dinheiro vivo durante o governo Lula. O que explicaria o esquema
mensalão.
No entanto, o nome de Rodrigo Maia constava da lista de
visitantes, menção honrosa essa que omitiu perante a TV em horário
nobre. Preferiu justificar-se na calada; na boca do caixa da
malfadada agência, se dá ao luxo de quitar suas despesas de
gasolina, mensalmente, ao invés de acertar com o frentista no posto.
Sua excelência passou a ganhar uma fortuna na era Severino e ainda
tira vantagem de fiado.
Copiou? Sim, a
Roberto Jefferson no denuncismo desenfreado que já foi privativo do
PT. Pôs o dedo na ferida antes de se certificar. Quebrando a
honradez parlamentar ao abusar dos privilégios que se confere aos
deputados no ato da delação - sujeita a cassação. Vai precisar do
pai o arremedo de inspetor Clouseau.
Mas os ânimos estão quentes, perfeitamente natural perder a
cabeça com o testa-de-ferro do PT e a lista milionária de saques
elaborada no capricho por Delúbio. Rodrigo se ouriçou todo porque
Genoino na presidência do PT ignorava as andanças de Delúbio em
conluio com o Carequinha, alheio à falência moral e financeira do PT
por incompetência de gestão, reproduzindo a inércia de Lula. Que só
reagiu quando o mar de lama avançou perigosamente, obrigando-o a se
internar numa oficina de blindagem.
Uma pena, justamente quando os banqueiros, a mídia e o alto
tucanato aplaudiam a maestria de Palocci, a exceção na continuidade
de um regime neoliberal presidido por outra exceção - um operário.
Enquanto FHC paira acima dos mortais, esfregando as mãos por ver
corrigida uma injustiça, depois do eleitorado ter rejeitado nas
urnas sua política econômica que Lula aprofundou.
À distância, se entende melhor o silêncio de Zé Dirceu, que
paira como um fantasma no ar, o coveiro de um sonho de pôr esse país
nos trilhos, que se desmanchou num abrir e fechar de olhos.