LÓGICA LUSITANA
28 de Fevereiro de 2005
A repressão policial contra o crime
organizado no Rio de Janeiro reduziu a lucratividade do tráfico de
drogas, levando-os a assumir o controle sobre serviços básicos como
o abastecimento de gás nas favelas, cobrando uma taxa de 25% sobre
cada botijão, a título de compensação. Quanta pobreza se o dinheiro
não fosse suficiente para comprar a polícia. Se até as crianças de 7
anos já são convocadas para servirem de sentinelas e posteriormente
promovidas a “aviões”. O pior é que o risco para se investir num
país se mede por índices econômicos, e não pela propensão a misérias
humanas, merecedoras de resignação.
O que espanta no Brasil é a capacidade de perdoar, como se não
fôramos católicos ou crentes preocupados em recuperar o irmão que
saiu da cadeia. Em apagar da memória qualquer ato desairoso que
desabone seu passado. Para que guardar mágoa? Para depois ficar ruim
da cabeça e doente do pé? É melhor deixar o esqueleto dentro do
armário. Mesmo porque se pode tirar proveito da situação. Ora se
está por baixo, ora por cima.
A eleição para a mesa do Senado passou
desapercebida com o efeito Severino. ACM, que renunciou em 2001 para
não ser cassado após o escândalo da violação do painel eletrônico,
assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça, a mais
importante do Senado. Absolutamente coerente com a escolha de
Severino e Renan Calheiros, o inventor do Collor. Que tendência a
tocar fogo em Roma!
“Um passo atrás, para dar dois passos à frente”, já ensinava
Lenin. De um otimismo que justificou embalsamá-lo para que não mais
o esquecêssemos. Pois se elege Bolsonaro, cuja bandeira é a pena de
morte, para a Comissão de Direitos Humanos! De uma lógica lusitana,
para que o direito de matar seja resguardado.
Um pragmatismo que encontra respaldo na Marinha Britânica, que
agora busca recrutas entre gays e lésbicas. Uma visão
empresarialmente correta na força armada mais homofóbica do país
diante do descompasso entre o declínio do contingente e o
crescimento dos homossexuais assumidos. Quem diria que os
fundamentalistas iraquianos acabariam por insuflar o poder gay!