PAPARAZZI
31 de Janeiro de 2005
Da necessidade que o grand monde
artístico, socialites e agregados têm de freqüentar a mídia, hoje
mais poderosa que nos tempos do rádio, da imprensa escrita e falada
e do celulóide. Na maioria dos casos para não dizer nada, passar um
recado que só encanta tietes cuja baba bovina dá a medida do alcance
de suas mensagens. E como demonstram estarem radiantes, de forma a
provar que vivem num mundo de sonhos! Propaganda enganosa, apenas
para se autodivulgarem, se exaltarem e conseguirem papéis ou
colocações à sua altura. Como a necessidade faz o monge, exibem-se
sem pudor em passarelas e palcos, parecendo muito naturais nos
papéis que abraçam. Sob luzes que espoucam com o fulgor de estrelas,
numa relação promíscua de estilos com o fotógrafo.
Não precisa se vestir que nem uma crente como a Rosinha, mas,
sem calcinha, nem o Itamar resiste. Andar de coleira para tirar uma
onda de que “sou escrava de meu amo que me sustenta e me ama”, para
depois se declarar barriga em falso e separada do Romeu que caiu na
falseta da Julieta, revigorando a sina das domésticas que não podiam
ver fuzileiro naval, para ajoelhar pro santo e começar a rezar...
ah, aí é bolinar a mídia! Configura um ato de provocação a
fotógrafos que se esmeram em desvelar a face oculta de estrelas, no
mister de saciar a fome do público em avançar na intimidade
conquistada em telões e telinhas.
A overexposição mexe com a cabeça desses também
artistas, anônimos atrás das câmeras, armados apenas de sua visão,
com a mesma preocupação do chargista: enfocar o que dará manchete,
sem censura, a perversidade em rodízio com a ternura, o repulsivo em
contraste com o libidinoso, o garotinho que jamais irá crescer,
coroas com suas ainda belas pernas a gozar com a 25ª hora da beleza,
homens que acumulam filhos no casar e descasar cheios de amor para
dar, jovens que pensam que o mundo começa a partir deles, as
madrinhas de bateria... bem, é melhor cantar, “lá vai a bateria da
Mocidade Independente, olha Mocidade, olha a Mocidade".
Os paparazzi puseram fogo na vida de Lady Di, a plebéia
azucrinou a corte, o Príncipe Charles preferiu tampax na essência do
amor, a rainha Elizabeth se cala diante da Inglaterra que não é a
mais mesma, pois se Hugh Grant é uma bichinha se comparado ao 007 e
o Iraque propicia que o Reino Unido regrida à condição de
pau-mandado dos Estados Unidos, ora, todo esse Lord save the
Queen tem que ser documentado, a evolução da História ordena,
para que outras gerações não duvidem dos castelos de papel e
democracias de araque que legamos.
Longa vida aos fotógrafos que exploram a bunda de midiáticos,
exibidas em desprezo a vaias cuspidas contra sua genialidade de
bufão! Flagram o que o ser humano tem de pior - o ego -, ao não
admitir serem clicados ao natural. Feios sem estarem produzidos,
maquiados, portando a máscara. A máscara da arte que abusa da
credulidade e nos faz sonhar até com o absurdo de uma realidade
possível de ser alcançada.
A foto põe o rei nu, desestabilizando até intelectuais que
pensam cultivar pérolas em suas ostras. Distingue o pavão misterioso
daquele que adora vestir o manto sagrado de doutor honoris causa.
Expõe às vísceras o presidente no deslumbre de andar embecado, com
um terno bem cortado e cabelo escovado. O fotógrafo realça para nós
comentarmos e, se for o caso, copiarmos.
O que mais atrapalha a vida da gente de fama, forçoso
reconhecer, é que não podem beijar sossegados que lá está o
fotógrafo. Quebrando a fantasia e deliciando a nossa, vai que é
contrabando. E quando é gay ou lésbica, a curiosidade aumenta para
se examinar quem está entregando o ouro. Além dos beijos serem mais
calientes, não se bitocam, se devoram. A foto como
testemunha do avanço das brigadas homossexuais.
Por tudo isso, não cabe encerrar os paparazzi numa câmara de
tortura, por mais que haja filas gigantescas para fazer parte de uma
lista de Schindler em busca da fama. A qualquer preço. Afinal,
escândalos pipocam e há que quem queira pagar.