GOZAR MUITO
03 de Julho de 2006
Rufaram os tambores de Adriano e, para que
ele continuasse titular, o seu pai-de-santo provocou uma distensão em
Robinho, o único insubstituível do time que é reserva. Pois não adiantou
muito. Não que se exija de Ronaldinho Gaúcho o título de melhor do mundo
também na Copa, basta ser o Ricardinho que, em apenas 10 minutos, por
quatro vezes, deixou os nossos cara a cara com o gol.
Foi a primeira vez que o Brasil viajou para disputar uma Copa
do Mundo com o time definido e sequer contestado pelo torcedor, em
virtude dos triunfos conquistados desde a regência de Felipão. Bastou o
time entrar em campo para cada um querer formar sua seleção. Queremos um
time para poder gozar muito, afinal, todos nós dependemos de fantasia e
espetáculo para sermos felizes. Repilamos a enganação que campeia na
política. A bunda arredondada não é uma necessidade gay, rebolar é
fundamental para gozar nas redes. É um esporte de contato que, na
tentativa infrutífera de se tirar o calção, ao menos se facilita trocar
de camisa e vestir a que bem lhe couber. Uma batalha campal que se
inicia com guerreiros sentando o cacete, enfiando a bola entre as
canetas, abrindo mão do que é seu em nome do grupo, e terminando com
beijinho beijinho, pau pau.
Todavia, Parreira não gosta de gozar por
inteiro, ao contrário de Felipão. Só aos pouquinhos. Deixa o melhor da
seleção para jogar só no fim da partida ou quando a competição afunila.
Baseado no seu princípio de que Copa do Mundo não é o momento, é o
currículo. Para um esporte tão imediatista que gira em função de
resultados, fica esquisito um técnico tão travado administrar o gozo da
torcida segurando a explosão do jogador brasileiro em busca do
equilíbrio dentro das quatro linhas.
- Eles têm algo que nos pertence - reconheceu Essien da seleção
de Gana, conhecida como os africanos brasileiros pela gana em atacar e
meter gols.
Não chegou a esclarecer se fazia alusão à alma roubada dos
africanos através do tráfico dos escravos que presenteou o Brasil com o
futebol pentacampeão - uma África que deu certo. Faltou pouco para
entoar conosco: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito
amooor!”.