BROKEBACK MOUNTAIN
06 de Março de 2006
O filme sobre o amor entre dois vaqueiros,
disfarçado ao longo de 20 anos, enquanto mantinham casamento e filhos em
paralelo. Trata da impossibilidade de amar ou de se entregar a um
relacionamento. De querer que tudo se exploda para ficar ao lado de quem
ama e não riscar o fósforo. Acendendo a fogueira de um debate pontuado
por críticos que ridicularizam os protagonistas como caubóis - ou
“cauboiolas” -, quando casais heteros padecem da mesma interdição, por
motivos diversos, e não somam coragem para vencer uma suposta
incompatibilidade. Reforçando a solidão que grassa no caráter da
humanidade.
Espanta ver tamanha acidez em gente tão condescendente com
filmes de super-heróis e que adoram reafirmar seus dotes masculinos
classificando atrizes que fazem perder o tino como potrancas. Já entram
no escurinho do cinema para não gostar da mensagem do filme, ao não
conseguirem se identificar com personagens gays que vacilam num mundo
áspero cujo sotaque arranha os ouvidos. Baixam o sarrafo na apatia, nos
sentimentos represados através de silêncios, no conflito não aflorar, na
paixão aparecer furtiva, na carne pouco exposta, nos desejos mais
sugeridos do que mostrados, em se tratando de dois homens machos que se
amam virilmente.
Quando são retratados pelo diretor Ang Lee a
léguas do estereótipo do homossexual afeminado, fora da lógica de
comportamento de homens que, pelo lugar e época em que vivem, não
poderiam ser. Mantendo distância de uma suposta anormalidade e do
caráter cômico e purpurinado com que habitualmente filmes do gênero
douram a pílula.
Chegam ao cúmulo de exigir um happy end para o filme.
Consideram o desfecho uma broxada geral com o intuito de castigar
sodomitas. Tantos pruridos e não-me-toques de homófobos em contraposição
à defesa extremada por parte de heteros neutros.
O armário que antigamente escondia o amante da madame tá assim
de coelho para tirar da cartola. Bastou um poderoso libelo
antipreconceito de rara sensibilidade para desencadear uma tempestade de
gelo numa tentativa de esfriar os ânimos dos que choram as inúmeras
chances com que a vida nos homenageia e não aproveitamos. Homens e
mulheres, com os gays na platéia.