QUANDO CRESCER QUERO SER
LADRÃO
07 de Agosto de 2006
Está dando certo a estratégia de se
colocar o pijama de presidiário em suspeitos de falcatruas. Já foi assim
com Buratti, quando denunciou as mutretas do lixo de Ribeirão Preto, ao
tirar o sorriso do caminho de Palocci para ele passar com a sua dor. No
xilindró, a família Vendoin abriu o bico e encostou um quinto do
Congresso na parede, revelando a identidade de uma canalha que fatura em
cima de ambulâncias. Graças ao juiz federal Jeferson Schneider, que,
numa ação isolada e heróica, arrancou detalhes vergonhosos de negociatas
que tiram o crédito do eleitor e aumentam o preconceito contra os
pastores de seitas crentes. Por que o juiz, quando promovido a
instâncias superiores, fica mais sensível a chicanas jurídicas e perde o
rigor no cumprimento da lei? Não estava na hora de dar um chega pra lá
nos direitos adquiridos de Vossas Excelências? Se, para cobrir o rombo
na Previdência, já taxaram o aposentado e querem arrumar um jeito de
desvincular as pensões do salário mínimo? No sentido utilitarista da
coisa, se a Justiça não anda, o que ganha o cidadão em garantir os
privilégios da casta que sentencia? Não se trata de pôr olho gordo no
salário dos magistrados, mas é que estamos sendo caçados nas ruas pelos
ladrões e, à noite, assistimos pela televisão a outros tantos nos
roubarem sem que tenhamos a menor noção de por onde circulam essas
ratazanas. A polícia federal já não tem mãos para desencadear mil e uma
operações e prender bandidos sofisticados até dentro da própria
corporação. Uma gente que não se cansa de roubar, de necessidade virou
vício. Para não falar de profissão: “quando crescer quero ser ladrão”. E
quando legislam, então, não brincam em serviço. Além de não limparem as
excrescências jurídicas que facultam aos maus elementos driblarem a
condenação e ganharem liberdade antes do tempo, enriquecendo nosso
convívio com eles. As crianças de doze, catorze, dezesseis anos, são as
que nos dão mais alegrias ao nos assaltarem. Livres, leves e soltas,
fazendo o que gostam, apenas porque nos sentimos com a consciência
pesada por colocá-las tão cedo atrás das grades quando, por vezes, matam
com mais requinte por terem se descompromissado da sociedade
precocemente.
Diante de tamanho inferno de Dante, o presidiário não usa
uniforme e sim pijama. Vive num imenso come-e-dorme, onde ninguém move
uma palha e só pode ter idéia de jerico. Igualzinho aqui fora, onde
ninguém ousa meter a mão nessa cumbuca. Gastar em presídio é
desperdício, investir em educação não evita o “dimenor” e os
parlamentares têm o rabo preso. Quer coisa mais grotesca do que marido,
mulher, filhos, genros e noras irem em cana, discutindo numa mesma cela
onde foi que erraram?