OS CONTRA
18 de Setembro de 2006
Aproximam-se as eleições e não adianta
mais invocar que não tem candidato à sua altura, ou o desânimo com a
decomposição das instituições políticas sob os efeitos do mensalão, ou o
prosseguimento do patrocínio de campanhas mergulhado na promiscuidade.
Votar é um ato em favor de um candidato, partido ou idéias com
que você conjuga. Acredita em poder representá-lo. Se quiser votar com
ódio por entender que o inimigo não está à altura do Planalto, ou com
mesquinhez por não poder ver a caveira de quem pagou com traição a quem
sempre lhe deu a mão, é problema seu com o ato que é afirmativo. Não se
pode votar com a Lei de Gerson no sovaco optando pelo candidato cuja
vitória esteja assegurada e depois reclamar que não sabia. Senão o
moralista vira oportunista e fica claro que tudo que deseja é a
moralidade a serviço de propósitos manquitolados. Não adianta reclamar
que um é chuchu que tá mais pra adjetivo que substantivo, outra é uma
radical arcaica com idéias perigosas, ou de um presidente que se diverte
com platitudes. Não adianta reclamar que já foi o tempo em que a patroa
dizia para a empregada doméstica em quem votar. Não adianta reclamar que
a classe C faz uma revolução às avessas e assume o comando no voto,
deixando os formadores de opinião nas classes A e B a ver navios.
Os chamados não informados e menos escolarizados
estão dando as cartas. Embora Lula tenha jogado no lixo a imagem de
Fidel Castro, quando se rendeu ao capitalismo financeiro internacional,
a turma dos que não votam no sapo barbudo engrossa com o peso da
baianidade abençoada por seu deus, o ACM, companheiro de renúncia de
Collor e Jânio Quadros. É a turma dos “contra”, a fiel expressão do
anticastrismo.
Se dona Rosinha foi um disparate e agora se despede, é motivo
para comemoração. Se paira no ar um pacto de silêncio, é porque São
Paulo está acuado pelo crime organizado. Deu branco no Lembo ao chamar
FHC de velho por ainda escrever cartas, ao não se lembrar de heteros
influentes declarando-se antecipadamente nostálgicas do colecionador de
títulos de doutor honoris causa, no apagão de seu mandato. Para que
tanta birra, ressentimento, amargor, frustração, desesperança e medo do
futuro? O pesadelo acaba por recair em você.
Não fique assim não, vem aí mais uma surpreendente e
emocionante novela a respeito da ética e suas ramificações, depois que
caíram os últimos paladinos do PT. Com Lula reeleito, seu mandato estará
sob o fio da navalha com a ameaça do impeachment sem que jamais o
consumem, pois em 2010 prevê-se um céu de brigadeiro para quem é do
contra. Até lá Fidel Castro já morreu.