O INFERNO DE PINOCHET
18 de Dezembro de 2006
Finalmente Pinochet se foi. O calor do
inferno proporcionado pelos inúmeros processos por tortura e seqüestro,
roubo e assassinato, que o perseguiam através dos tribunais chilenos,
para não falar dos europeus, tornaram sua permanência aqui na Terra
irrelevante. Com Pinochet se confirma que o castigo não se inicia depois
da morte. Preferível encarar o rosto de Deus para encontrar ali um
julgamento misericordioso e mais humano. Contudo, terá de olhar agora a
cara dos homens e mulheres que fez desaparecer, um atrás do outro.
Como Deus e o comunismo são afins em não tolerarem a existência
de classes sociais e a riqueza explorando a pobreza, Pinochet, de cara,
fica obrigado a confessar por que infligiu essa dor múltipla e
irreparável. Por que mandou matar ministros militares em penca? Para não
ameaçar sua soberania? Por que fez descer sua sombra sobre o destino dos
chilenos, estendendo suas garras, através da Operação Condor, às
ditaduras do futuro Mercosul? Por que se julgou maior que a vida? Uma
figura além de seu tempo?
Só porque acabou com o buraco da Previdência e
abriu a economia às nações amigas para se fartarem nas privatizações?
Levando os tucanos a admirarem e imitarem a jóia mais preciosa do
monetarismo, a teoria de que nada é de graça, tudo tem seu preço.
Até Pinochet se tornar um fantasma político com a prisão em
Londres por 18 meses e a descoberta de suas contas secretas no exterior,
a ditadura equiparada ao franquismo, sob o beneplácito da CIA que tramou
e financiou o golpe de 1973. A jóia mais preciosa, os campos de
concentração que surgiram para torturarem 30 mil vozes opositoras ao
regime.
Gracias, Pinochet, por mostrar sua verdadeira face ao longo de
sua decadência a caminho de prestar contas ao tribunal da consciência,
aquele que forma juízo sobre questões morais.