ABRAM O VOTO!
20 de Março de 2006
A igrejinha contra a santa
inquisição da moral à procura de uma ética a serviço da sociedade.
Dos dezenove acusados no esquema do
mensalão, apenas Jefferson, Zé Dirceu e Pedro Corrêa foram cassados.
Quatro renunciaram e cinco foram absolvidos. O Zé vai pedir reintegração
a essa digna corporação julgando-se vítima de perseguição política.
Jefferson atirou para tudo quanto é lado, rodou que nem vira-lata
querendo morder o próprio rabo e virou bobo da corte. Tucanos e
pefelistas posaram de madre-superiora mas acabaram escondendo alguns de
seus pares em seu velho hábito. O presidente Lula pendurou um guardanapo
babadouro para se proteger dos respingos da crise e passar ao largo, na
campanha afirmará que o mensalão foi uma obra de ficção.
A Câmara dos Deputados pôs o jamegão na desmoralização dos
saques no valerioduto, jogando por terra o esquema do mensalão. Caixa
dois cassar mandatos, nem pensar! Bancadas governista e oposicionista se
congraçam aliviadas e agradecem mutuamente o apoio recebido para
livrarem seus soldados de chumbo da degola. Que noção de solidariedade e
companheirismo os deputados cultivam, quando se sabe que FHC e Lula não
param para recolher seus feridos. Roberto Brant equipara seu partido, o
PFL, ao Clube da Esquina: “ninguém fugiu de mim, ninguém correu de mim,
continuam me chamando para jantar, isso sim é fraternidade".
Na véspera das eleições, a casta dos deputados age como na
ditadura, pouco se importando com o senso crítico da sociedade. Pois se
Lula ascendeu nas pesquisas, é sinal de que a opinião pública não
agüenta mais o prolongamento da crise política. O melhor a fazer é
esquecer tudo e perdoar.
A adoção do voto aberto em todas as decisões da Câmara, Senado,
Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais é uma exigência do
cidadão, visto que a classe política é useira e vezeira em não dar a
cara a tapa para fugir da avaliação do posicionamento político assumido
na caça ao eleitor. Voto secreto somente para a eleitor cassá-lo, pois é
na gororoba em que transformam a política nacional que eles proliferam,
para alçarem vôo ao se livrarem das larvas e conquistarem o poder.
O sigilo acoberta suas manobras. Nunca se interessaram em
quebrar o sigilo bancário dos parlamentares que trocaram de partido e
engordaram a base governista para votar as reformas do interesse de
Lula. Concentraram-se na pista do desvio do dinheiro público para o
valerioduto com o intuito de derrubar o presidente e o discurso da
moralidade do PT. Deixaram passar em branco o atentado mais grave contra
a democracia: se deputados foram ou não comprados sob o pretexto de
formar um curral eleitoral a serviço de um projeto de abocanhar o poder
tramado pelos pragmáticos do PT.
Abram o voto, nobres deputados e senadores, não se assustem,
tenham coragem, abram sua caixa-preta, mostrem quem são, vender a
consciência hoje em dia não constitui mais ofensa. Generalizada a
prática na sociedade com a desculpa de ter que sobreviver, quem irá
sustentar uma ideologia de vida com a pretensão de dar um fim no tráfico
de drogas que campeia na mentalidade cívica brasileira?