POR QUE LULA NÃO CAI?
24 de Abril de 2006
A crise na ética política não descasca a
figura do presidente. O povo passa ao largo do fogo cruzado sobre os 40
mensaleiros indiciados que nos remetem a Ali Babá. Palocci foi relegado
ao ostracismo pelo caseiro, mas o que importa é o Bolsa-Família, o
aumento do salário mínimo, o preço menor da cesta básica e o cimento
mais barato. A corrupção vista como um filho que não se corrige, mas
isenta o pai da responsabilidade. Os intelectuais pensavam que Lula não
andava sem Zé Dirceu e eis que Roberto Jefferson o extirpou e nada
aconteceu.
Passeatas e impeachment, contudo, soam distantes. Quem iria
para as ruas? ACM e seu neto, de mãos dadas com Cesar Maia e seu filho,
ao lado de Garotinho? Bornhausen em fim de carreira? Daslu e Alckmin,
uma dupla inseparável? Virgílio preocupado em se eleger governador do
Amazonas? O Aécio, que não pensa em outra coisa senão nas eleições de
2010? A OAB, que não tem nada a declarar com a atuação cada vez mais
política do Supremo? O general que mandou o avião voltar porque se
esquecera dele? Diogo Mainardi abraçado a Hebe Camargo? Além de Lima
Duarte, que outros atores? Heloísa Helena, com discurso de PSTU,
irmanada a essa gente?
Não é uma luta de classes no sentido marxista
que está se desenrolando na nossa realidade, mas é um cabo-de-guerra
entre diplomados e menos instruídos no julgamento de Lula. O Brasil de
finas propostas contra o Brasil acusado de votar no pior e mais
enganador. Falam que direita e esquerda perderam identidade, mas
letrados e a massa ignara não se cruzam. Haja vista que FHC aconselha
Lula a ler mais para desenvolver seu pensamento e governar melhor o
Brasil.
Surgem brancos bem-nutridos a apregoarem que Lula é a figura
mais legível para a imensa população de ignorantes do país. Os
escândalos foram didáticos para não se votar mais por espasmos
demagógicos. Sofrem antecipadamente com um segundo mandato em que Lula
exporá a plenitude de sua mediocridade no lugar de salvador da pátria,
no curso da onda de boçalidade iniciada na Venezuela e que agora
prossegue na Bolívia.
Esse grupo ideológico de punho de rendas se julga educado,
elegante no pragmatismo, tolerante ao capitalismo inevitável, de uma
sensatez realista: são lindos no seu bom senso. Enquanto julgam os
pobres plenos de obviedades e que se contentam com as migalhas do
Bolsa-Família, guiados pela luz santa de um operário no poder.
Um confronto entre a desconstrução de nossa frágil democracia
pela quadrilha do Zé Dirceu, regredindo a um Brasil que nos corrói há
séculos, e Lula, o descobridor do Brasil, ao assumir a paternidade de
todas as benesses praticadas no país.