ENCRUZILHADA
26 de Junho de 2006
Ronaldo, o jogador mais pesado do mundo se
levarmos em consideração a fama. Transformou a Copa em Spa ao baixar de
95 para 90 kg, distante dos 82 em 2002. Mas desenterrou o morto e
ressuscitou Lázaro quando até fez gol de cabeça, logo em cima de Zico,
um pé-frio em matéria de Copa: perdeu três como jogador, uma como
supervisor e outra como técnico do Japão.
O período iluminista forjou a França como o berço da cultura do
processo civilizatório, fama que desfruta até hoje. O que não a impediu
de fazer uso do vodu para ganhar a Copa de 98 e enrolar a língua do
Ronaldo em meio a uma convulsão que atingiu a alma do torcedor
brasileiro. A vingança dos nossos pais-de-santo não tardou e a França
deixou de ganhar nas copas seguintes, com uma postura tática covarde que
envergonhou o orgulho gaulês - a Lei do Retorno.
Contudo, Ronaldo perdeu o gosto com o amor,
assumindo uma atitude distante em relação à mídia que encheu sua
paciência. Descuidou-se, foi empurrando com a barriga o tempo mais do
que suficiente para perder peso e adquirir uma forma digna de uma Copa
do Mundo. Até desencantar com dois gols contra o Japão, calando a boca
de críticos que não têm fé em Deus.
Por mais que tentem demonstrar o cientificismo na evolução do
futebol, o que ainda prevalece é o amadorismo da emoção e do drible para
desmoralizar o adversário - o sentido da pelada predominando sobre a
rigidez tática. Pelo menos para o futebol brasileiro e africano. Foi
pensando assim que Parreira jogou pro alto as camisas titulares e é
claro que os reservas chegaram primeiro e se escalaram. Se os argentinos
não sabem onde enfiar Tevez e Messi no time titular, imagine nós com
Robinho, Juninho Pernambucano, Cicinho, os dois Gilbertos...
Parreira, você provou que não é teimoso nem conservador,
conforme se pensava. O time que entrou contra o Japão quebrou a nossa
cara. Em compensação, agora que a Copa do Mundo começa para o Brasil na
fase mata-mata com Gana, o destino te colocou numa encruzilhada. Ou você
mantém coerência com seus princípios aplicados na Copa de 94, que ganhou
com um time retrancado, ou arrisca-se a corrigir a injustiça da Copa de
82, reproduzindo o verdadeiro futebol brasileiro com um poder ofensivo
que faz a alegria do povo e encanta o mundo inteiro.
Está em jogo o medo de perder em conflito com a beleza do
espetáculo.