BOM DIA A CAVALO
22 de Janeiro de 2007
Quem muito fala dá bom dia a cavalo. Quem
tem muita necessidade de conversar acaba dando bom dia a cavalo. Na
maior parte do tempo é traído pela tendência de falar sem pensar.
Dirige-se a quem quer que seja para conversar. É quando demonstra sua
personalidade insaciável em se comunicar. A ponto de causar inveja nos
reprimidos de nascença, que o acusam de invasivo e espaçoso, tamanho o
trânsito dentre os sociáveis e a capacidade de fazer amigos na vida
mundana.
Fala demais, sem medida, um tagarela a caminho de destrambelhar
que costuma levar inadvertidamente os seus problemas familiares para
fora do âmbito doméstico. Se assim for, um bisbilhoteiro que não guarda
segredo e facilmente fala sobre tudo o que ouve. Podendo resvalar para
leviano, se com sua língua ferina dá conhecimento a outrem localizando
fatos e identificando pessoas numa roda de amigos. É quando entrega tudo
de bandeja e enxuga o veneno que escorre dos cantos da boca.
Em compensação, não faz distinção nem
discrimina. Não é hipócrita, diz a verdade doa a quem doer. Bate de
frente com as mulas que não andam e com os ordenadores de etiqueta que
exigem modos - componha-se!
A carreira de dar bom dia a cavalo é interrompida pelo cansaço
quando descobre que o cavalo não responde, não existe ida-e-volta nessa
conversação. Considerado linguarudo que leva-e-traz, percebe que
desperdiçou energia quando deu pérolas a porcos. Passa a selecionar
melhor as amizades. Tira do seu caminho biltres, parvos e songamongas.
Freud localizou o bom dia a cavalo, na sua origem. Na
necessidade de falar precocemente com os adultos, já que as crianças não
têm todas as respostas para satisfazer àquela fase dos porquês. Cresce
brigando contra a própria sombra, irritando-se com a máxima: saber
silenciar, em certas ocasiões e nos momentos oportunos, pode ser mais
sensato.
Quem dá bom dia a cavalo arrepende-se com freqüência, de tanto
se meter em assuntos alheios e tornar-se inoportuno. Mas não abre mão do
seu carisma e poder de atração que exerce nos petit comités, arraiais,
festanças e - por que não? - nas massas.
Apenas quer ser valorizado, pois tem um recado a dar.
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