A LÍNGUA É O CHICOTE DA BUNDA
08 de Fevereiro de 2007
O carnaval já foi dado como morto que nem
o teatro. Mas a orgia festiva cresce nas ruas, deixando desesperados os
que fogem à luta no carnaval bandeando-se para cidades bucólicas.
Incomodando aos que assistem da janela, que nem Carolina, o bloco
passar. Causando fricotes nos alcoólicos anônimos em tratamento.
Porque o carnaval sempre coloca em xeque a alegria e o amor. Se
há amor, a alegria é filha. Ou se não há alegria, o amor só aparece em
forma de funeral. Na base do consolo. Se não tem tu, vai tu mesmo. Não
que não possa dar samba, já que Deus escreve certo por linhas tortas.
Mas então, qual é o babado?
É como encontrar animação para brincar o
carnaval? Não cabe se irritar com tribufus, mocréias e severinos? Com
gosmentos que te pegam e arrastam para brincar ao som de marchas
ultrapassadas e letras pobres? E o grotesco de fantasias que só pioram a
feiúra de pobres coitados? Quem é que eles pensam que são em seu dia de
glória? Só falta agora organizar as páginas da vida de carnavalescos
depondo como o Carnaval deu um outro colorido à sua existência. Ia virar
um arco-íris e todo mundo acabaria entregando o ouro ao bandido. Pois
carnaval é exposição e descoberta de um eu maior que você esconde o ano
todo, os desfiles de escola de samba como paradigma.
Tamanha indigestão mental faz com que você tire
a bunda do sofá que tá um forno, se mexa, alongue os cílios e pinte a
boca, puxa dali, aperta daqui, dá um realce, saia pulando, rebole, dance
e sorria... você está sendo fotografado no carnaval!