O CHEIRO DO RALO
02 de Abril de 2007
A bunda do ano. De Paula Braun. No filme O
Cheiro do Ralo. Uma bunda gigantesca. E na medida, seja sob o avental de
garçonete, na calça jeans, no saiote, ou nua.
A bunda concorre na tela com o maior ator brasileiro do
momento, Selton Mello, que compra objetos usados de seus clientes e os
trata como se fossem uns merdas. Não se apercebendo do porquê de sua
obsessão pelo mau cheiro do ralo.
Mas é da bunda de Paula que vem a luz sobre a
polêmica que os glúteos levantam, ou seja, com quantos paus se faz uma
canoa. Pelo mesmo canal que percorre Amsterdã, penetram desejo, posse,
domínio, submissão e realização. Quando a maré baixa, são expelidas as
entranhas, as memórias nocivas de um indigesto encontro. Subindo rio
acima, a flor do amor, descendo, o fedor.
A bunda de Paula reflete o abismo que divide os
casais. Dar o mau passo significa o vínculo que se tornará inesquecível,
para não dizer eterno. Mais forte do que o amor, face à volúpia e
impulsão exigidas. Não cabe romantismo. Não chega a ser selvagem, como
alguns puristas tergiversam, pois é de legítima cepa.
Mas se a maldita da dor interferir no meio do filme e cortar o
fogo, restará o problema não resolvido, o medo, o recuo estratégico, a
regressão à virgindade. Mesmo que minimize o impasse invocando a luxúria
típica dos homens com seu egoísmo orgiástico e o ser antinatural - após
consulta a Darwin.
Não é preciso ir tão longe em associar o desprezo à raça humana
com o caráter fétido do ralo nem tampouco deixar de usufruir os canais
de Veneza, porque apertados, escuros e mal cheirosos. Não existe pecado
na bunda de Paula, apenas o mal de consciência.