CRUEL
23 de Abril
de 2007
- Sim senhora.
- Senhora está lá no céu.
A coroa ficou puta só
porque tava de butuca em cima do jovem rapaz e o bicho nem notou. Não está a fim
de fazer estágio para se graduar como homem, nem de experimentações que o façam
dar de cara com Édipo.
- Já tiveram seu
tempo!
Imagine se isso saiu da boca de um
carcará, que não morre de fome, ele vai lá e come. São as eternas rivais, com
veneno a escorrer do canto da boca. Já penduraram as chuteiras e não suportam
ver louras plastificadas bem apanhadas na idade, de saia curta a exibir coxas
malhadas, resistindo à inclemência do tempo e às cruezas do mercado, partindo
para cima e se dando bem.
A vontade que dá é pedir a Papai do
Céu para nascer de novo. Algumas das venenosas até já foram bonitas, mas não
chegam a ser um molambo qualquer. Tomam cuidado para não se apresentarem de
qualquer jeito, procuram se vestir bem para dar a impressão de seguras de si,
mas perderam a embocadura e mandaram a sensualidade encostar num outro espírito.
Porém, restou o ego, o fiel inimigo.
Bate uma vaidade que dispara o cronômetro do ridículo e ninguém segura a voz de
cana rachada que denuncia o enfadonho. Como pôde ficar tão desinteressante? Vá
se meter a besta com ela, cheio de nove hora, que lá vem chapoletada.
Não deu outra, ficaram chatésimas,
com raiva da vida, um porre. O sexismo desenfreado abalou as convicções da
família, e a mulher no seu seio, como não se sentir excluída? Além do mais, é
desumano lutar para manter a mesma performance no transcurso da vida. Depois de
certa idade, cansa:
- Eu quero ter direito a ser outra
coisa que não sei se vou alcançar; nem ao menos eu sei o que é. Eu não consigo
pular mais a cerca, nem quero ser alvo de chacota, principalmente de jovem
debochado. Nunca vi fazerem tanta exigência.
- Amélia não tinha a menor vaidade,
Amélia é que era mulher de verdade - chegou a turma do funil onde todo mundo
bebe e ninguém dorme no ponto.
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