MADRINHA
07 de Maio
de 2007
Na origem das
fábulas, a fada é madrinha. Para dar sorte à afilhada, a filha que a madrinha
sonhou ter. Fará tudo para que o destino dela seja o de uma princesa.
No caso dos pais
faltarem, é a madrinha que provê e protege. A madrinha é co-responsável na
educação e orientação, compromisso sagrado na pia batismal.
As tradições se
deterioram se não preservadas da ação do tempo, implacável em inadequar costumes
se o ser humano tem uma vocação irresistível para matar a natureza das coisas.
Hoje, madrinhas são
escolhidas por pais, com olho de lince, por saberem que serão um fracasso.
Afilhadas trocam de madrinha procurando o oposto da mãe, com vergonha da herança
que ela irá legar - preferível outra família.
Assim como a sociedade
de consumo empurrou as afilhadas a assumirem a ação parasita das mães e exigirem
da madrinha uma bolsa Victor Hugo, a cobertura das despesas de formatura ou um
carro zero, há madrinhas que, ao envelhecerem, buscam no afilhado o marido que
nunca tiveram.
Essa rebeldia nas
convenções encontra respaldo na nova interpretação que se dá à história do
Chapeuzinho Vermelho. O Lobo Mau não é mais a avozinha com uma boca tão grande
para comer o Chapeuzinho. Com habilidade e sem rufar os tambores, persegue as
senhoritas no rumo de suas casas, de forma reservada e gentil, e lembra-as do
frio que irão sentir quando se meterem na cama. O frio do cio eterno a que estão
sujeitas. O frio que pode se transformar em prazer e aquecê-las neste inverno,
com a condição de que tudo mais vá pro inferno!
Não existe infâmia que
o lobo não invente para conquistar sua presa. Não resta outra opção à afilhada
senão converter-se em dona de seu próprio destino e prosperar em ações contra a
moral da história, enquanto cabe à madrinha resignar-se na condição de vítima.
Vítima de histórias da carochinha.
|