V ZERO
19
de Novembro de 2007
Numa competição,
maratona, vestibular ou concurso, você pode demorar a
render e isso custar caro aos seus objetivos. Deixar
o tempo passar e perder o trem da corrida. Ficar
para trás e ser reprovado. A ver navios, observando
os outros competidores te ultrapassarem. Não
sobrando tempo para acabar a prova, por causa do V
zero, a sua velocidade inicial. Você só funcionar
depois de certo tempo, sob a pressão de que é
devagar, quase parando, de não agüentar, pensar em
desistir, para apenas começar a correr dentro de
toda a sua integridade possível quando ganhar
inspiração e mostrar quem você é. Portanto, larga de
ser dispersivo, seu retardado!
V zero lento é, no
despertar, o desperdiçar da manhã inteira para
acordar a uma da tarde e a adrenalina só fazer
efeito à noite. Onde todos os gatos são pardos. O
chope é claro e ilumina. A fumaça do cigarro inebria
a mente, acusada de confusa, mas que brilha sob a
força do intelecto ágil e pede passagem ao sabor das
discussões, de onde nasce a luz, parida pelo calor
das divergências. É quando você odeia seu contendor,
que te faz pensar, quando não se apaixona, cáspite!,
por tudo aquilo que temeu encontrar e pôr dentro de
seu quarto.
Melhor dormir, já é
tarde na madrugada, e engatar no v zero do dia
seguinte. Afinal de contas, a saideira é um engana
que eu gosto e V zero lento é uma mulher que, ao
demorar para enxergar que ele é o cara, somente
põe-se a correr quando os beijos arrancados por ele
dão sinal de que cansou da resistência. Joga fora a
estupidez dos ciúmes, a chatice da implicância, a
cabeça-dura, no ato do choro convulso substituir a
estultícia. Não acredita noutra vida além do que
seus olhos evidenciam, por não levar fé nem nessa.
V zero longo é demorar a
perceber e se arrastar na hesitação. Quando ela se
dá conta de que não sabia como você realmente era.
Por mera prevenção que não avalia o tamanho da
perda, ela não vive, só vegeta, por medo de se
machucar ao ceder terreno, tornar-se flexível e
disponível para o que der e vier. O servilismo em
confronto com a puta mulher.
V zero é considerado
sintoma de pouca inteligência, por não avançar e
quebrar todinha a vadia da inércia. Não ser capaz de
fazer amor na primeira hora da manhã por causa do
sono, que a deixa lesada. Preocupada com o mau
hálito e não se sentir à altura do vale-tudo logo no
alvorecer, quando o amor engole tudo e a devolve
para a vida tinindo. A ouvir canário entoar o
“Guarani”, de Carlos Gomes. A brasilidade de
Villa-Lobos no “Trenzinho Caipira”. A embarcar no
samba do avião de Tom Jobim, quando sua alma canta e
está morrendo de saudades, só de ver seu corpo
balançar e poder dizer que “você foi feito pra mim”.