OS ECONOMISTAS
27 de Outubro de 2003
Os economistas já constituem uma raça à
parte a caminho de estabelecerem uma dinastia que governará os
destinos econômicos do planeta, tal a sintonia com que ludibriam e
desbaratam algo tão elementar como receita e despesa, lucro e
prejuízo, se sobra ou falta, o que dá pra viver. Sua reputação gira
em torno da dureza no combate à inflação, em favor da estabilidade
econômica, às custas de elevar os juros e impor sacrifícios à
população. Equação que implica no menor custo possível para o país,
pois demonstra amadurecimento e aprofunda as políticas
macroeconômica, fiscal e monetária, em virtude de realizar um ajuste
vigoroso em conta corrente e normalizar o fluxo de capitais.
Entenderam?
Consideram o FMI como seguro-saúde, confiscam poupanças,
incineram contratos de trabalho com aposentados, desaceleram a
economia e reclassificam o empregado como mercado informal. Intervêm
na cotação do dólar para garantir reeleição ao elevar o PIB do
Brasil à 8ª posição. E vê-lo agora na 15ª, abaixo da Índia.
São obcecados em aumentar as exigências e o
tempo trabalhado para se aposentar, ao nos examinar como irracionais
criados em viveiros e constatar o aumento da vida útil.
Estabelecendo a Quarta Idade ao cair na compulsória elevada para 75
anos, ao sabor do desafio de descobrir prazeres inusitados em linhas
e curvas que declinam inexoravelmente, graças à sapiência acumulada
na labuta incansável em cortar cana, fazer continência, bater ponto
e contar dinheiro dos outros. Com pouca ou nenhuma flexibilidade,
guardam um horror à flacidez, rijo é o estado preferencial em que
melhor se assentam e com que se animam.
São totalmente insanos ao prescrever a absorção a graves
choques, tratando o ser humano como um mentecapto que teima em não
se adaptar às regras do mercado. Impõem severos castigos, que
lembram chibatadas, ao demonstrarmos incúria em contrair dívidas,
vidrados que somos em sinais exteriores de riqueza. Quando o sonho
de consumo dos economistas se concentra em criar um banco para
clientela fina, presidir um banco estrangeiro ou viver da aplicação
na Bolsa de Valores.
Só pensam em dinheiro, como os analistas de banco
internacionais que fizeram mea-culpa e aprovaram o Brasil petista,
ao aliarem o pragmatismo à preocupação social e às reformas. O
mercado está com uma liquidez inacreditável, os investidores
procuram alta rentabilidade e o Brasil é realmente a melhor economia
para se investir, constatam entusiasmados com uma das maiores
mudanças no quadro econômico da América Latina.
Pregam a austeridade fiscal como pastores do nosso bolso e
incorrem no crime de lesa-pátria, não previsto, evidentemente, no
Código Penal do primeiro ao terceiro mundo. Baseado na mesma
filosofia do sistema bancário cobrar do bom pagador o que perde do
mau pagador. Caindo no vazio as previsões de vulnerabilidade da
economia brasileira, à testa Lula, que, na campanha eleitoral,
aumentaram seu risco, dispararam o dólar e a dívida externa, e
incitaram a inflação a devorar o patrimônio público.
Operam com projeções, manipulam expectativas e escravizam a
matemática a serviço da rentabilidade. Se dirigentes esportivos, que
representam nações de torcedores, começam a ser presos, a voz do
povo é a voz de Deus: "a-e-i-o-u, algema eles e manda pra Bangu".