DILEMA DE BRECHT
16 de Agosto de 2004
Osama bin Laden virou a página do século
XX ao disparar jatos com passageiros americanos para destruir as
torres de Nova Iorque, o Pentágono e a Casa Branca. Realçando a
cultura islâmica. O contraste surrealista entre a cultura do véu e a
cultura do corpo. Infundindo o temor de como caber no mesmo planeta,
tamanha a diferença na identidade assumida. Muito antes do
terrorismo se alastrar pelo planeta, as mulheres ocidentais
abandonaram os nichos reservados a elas nas famílias, desentocaram e
partiram para o ataque.
"Os homens que não se façam de besta comigo, dou conta do
repertório das putas com um pé nas costas! Que história é essa de se
sentir atraído por elas e cheio de falta de imaginação comigo? Não
há nada que me impeça de interrogá-los sobre suas fantasias. Entre
constranger e respeitar sua intimidade, prefiro invadir seu espaço
aéreo. Parece que os homens são lesos e desconhecem a fêmea que têm.
Abaixo da Linha do Equador, tudo é permitido em nome da paixão e do
tesão, ainda mais se somar, juntar, agregar."
Ao não serem incluídas nesse bacanal do amor, se
sentem como a última mulher do mundo, incapacitadas do ato mais
sublime, picante e ardente que dá margem à volúpia de rasgar o véu,
de vencer resistências e de barrar do baile o preconceito.
Os homens fazem questão de separar o sexo com a sua mulher da
degradação com a puta, preservando a louça fina de rompantes,
ímpetos desarrazoados e baixarias, a título de alcançar o Olimpo dos
orgasmos. A partir dessa distinção, ele congela a imagem da mulher
na esposa, e perde a vontade - o desejo é sugado e se bandeia para
outras plagas.
Não se apercebem que elas, rebaixadas, ficam mais curiosas e
mais excitadas, ao criarem mentalmente o som e a imagem de um filme
que ainda não começou. Se colocam no lugar de amantes em quem se
encontra todos os caminhos do prazer que oscilam entre tomar a
iniciativa e deixar que ele a possua. De mandar às favas timidez e
pudor, sem sentir receio de entregar seu eu mais íntimo a um másculo
que se derreta na paixão. Com mais astúcia do que com truques,
ingressar num prazer sem culpa, em que o desforço físico é o reflexo
de um amor sem limites, os desejos apenas se devoram e se
satisfazem, acalmando o espírito.
Os homens torcem o nariz quando sua essência é objeto de
críticas. Pior quando a mulher o faz, pois parte de suas próprias
decepções amorosas. Por ser corporativista, ele evita olhar para
dentro de si. Sendo determinante no desgoverno que desarmoniza e
dificulta o afeto nas relações, arrastando-os para o olho do
furacão. O dilema de Brecht no seu teatro.
Brecht dizia que o teatro devia divertir, sempre. Ocorre que o
público associa Brecht a engajamento e não a divertimento. Seu nome
é mais facilmente ligado a causas sociais e políticas. Por que quase
sempre se vincula divertimento a alienação ou fuga da realidade? Os
americanos preferem chamar de entretenimento e relegar a platéia à
passividade de meros consumidores.
Se arte é engajamento ou entretenimento, a mesma dúvida recai
sobre o homem no que tange a relacionamentos. Se é para se
comprometer ou divertir. Se bem que compromisso só ganha
materialidade quando se vive junto sob o mesmo teto, emparedados na
felicidade. O divertir pressupõe que a relação contém um prazer
autêntico borbulhando nos inúmeros brindes que erguerão em homenagem
a ambos necessitarem um do outro para encher suas vidas de encanto.
Um abalo sísmico sobreviria se tentassem quebrar a magia daquele
prazer.
Será que os espectadores escolhem os espetáculos a que querem
assistir? Para Brecht, tão importante quanto desenvolver a arte no palco
era desenvolver a arte dos espectadores. Ele os queria despertos e que
não deixassem sua consciência junto com os casacos na porta dos teatros.
Tarefa quase irrealizável. Resta saber que tipo de diversão convém ao
homem.