PACTO DE AMOR
30 de Agosto de 2004
Não se deve bater em filhos quando eles se
comportam mal, já que suas personalidades em formação ficam
destorcidas e pode-se prejudicar sua auto-estima. O professor não
deve confundir disciplina dos estudantes com arrastá-los pelo braço
para o castigo. Trazer a cama de casal para dentro do quarto da
filha é uma parada difícil para a mãe resolver, ao contrário de
suprir o filho com quantas camisinhas quiser para que se divirta à
vontade. Ficam com muitos porque se cansam de todos com uma rapidez
de super-herói. Trocam tanto que fazem revirar no túmulo as
recomendações de seus antepassados de que elas vão ficar faladas, os
rapazes só querem se aproveitar. Por ainda não se encantarem o
suficiente, não conseguem se envolver, e sofrem. Há que ter um quê
de desafio de tipologia mitológica. Algo que empurre a investir no
namoro. Senão perde a graça. Tão fácil quanto juntar os corpinhos é
separá-los. Até encontrar alguém que saiba dizer não.
Essas cabeças evoluem necessitando superar obstáculos. Por
vezes, afigura-se distante se contaminarem com um sentimento mais
profundo que crie vínculos de causa e efeito, que mais parecem
amarras. Por isso, quando alcançam o amor, querem descansar nos
louros. Para que discutir a relação?
Por ser um tabu, pouco se comenta sobre casais
que se lançam numa relação moderna e aberta, em que se liberam
corpos e afetos, sem regras ou interdições que impeçam o prazer e a
novidade de fluir. Pesadelo: o limite de até onde poder ir. Tudo é
válido e permitido, menos a hipocrisia. O pacto da fidelidade gira
em torno de falar tudo o que se vivencia. Abaixo a posse, apenas a
verdade cristalina dos fatos, a base da autenticidade da relação.
Não cabe pertencimento de qualquer ordem, seja ser de alguém
afetivamente ou possessivamente, a intensidade leva ao grude, torna
enjoada a simbiose, ao descaracterizar a individualidade e ofender a
liberdade.
Negligenciar o pacto significa trazer uma sombra para o
relacionamento que irá desenvolver uma profunda tristeza e ódio que
consumirá o amor. Originado na omissão que redunda na mentira e
embrenha no amargor, tudo faz voltar à raiz do problema. Andando em
círculos e valorizando o negativo, à procura de um beco com saída em
meio a tanta discórdia de como conduzir o relacionamento.
Ser ou não ser, eis a questão. Se abrir a relação, pode-se
constatar que não está preparado, afinal a verdade não foi feita
para todos. Caso contrário, é mentira das boas. O pacto é uma
tentativa vã e a tendência é se perder com o tempo e o casal voltar
à hipocrisia vigente, uma fatalidade na sociedade. Ganha-se
experiência, alargam-se os horizontes, mas todos receiam as
conseqüências da liberdade que se deseja construir. E quando se ama
arrebatadoramente, ninguém brinca em serviço e exige-se a entrada na
posse imediata da pedra preciosa, do bem raro que não chegou às suas
mãos à toa. Você fez por merecer, seu coração aberto clamava por
algo sublime que o retirasse da condição de solitário na vida. Por
não conseguir se conectar, se agregar ou se apegar a alguém. Por
isso, pautou-se por pactos, brilhavam seus olhos quando investia
contra o amor careta e injuriava o público fiel de novelas, adepto
da pieguice. Tanto cuspiu marimbondos contra reacionários que
esgotou seu arsenal, acabando por encontrar um lugar nessa sociedade
conservadora que sempre se encontra vago. À sua espera, como uma
aranha que tece a teia à espreita de moscas que pousam na sua sopa.
Cansadas de procurar uma ideologia para viver.
Terminando por ceder. Recuar, para que inventar se você pode
dar certo no amor? Se essa fórmula vem funcionando há
secula seculorum, amen. A verdadeira magia está em
descobrir o que outros já saborearam, se banquetearam e se deram por
satisfeitos. As escavações arqueológicas não revelarão o percurso e
a evolução do amor, trata-se de uma cultura que só o inconsciente
pode registrar. Portanto, guardado a sete chaves, de forma a
desestimulá-lo e decifrar por conta própria o mapa do seu tesouro. E
não há muito tempo disponível para se encontrar a fonte do afeto que
jorra e nos livra da incredulidade e frieza d’alma.
Senão nos deixamos ficar numa avoação só, contemplando o sol
que derreterá as asas de nossa liberdade e nos fará dar com os
burros n’água. A inconseqüência de nossos atos não é uma inútil
paisagem, serve para definir até onde vai a liberdade e o que fazer
com ela. Se o amor liberta ou encerra. Se o pacto fermenta ou
dessora o relacionamento. Se repactuar implica em compactuar.
Nascemos sob esse signo.