O ABSORVENTE
14 de Fevereiro de 2005
O absorvente é um esquizofrênico que
contornou o cabo da Boa Esperança ao superar a crise em como ser
homem. Se nos padrões como o mundo está acostumado a vê-lo,
estacionado no “ah, ele é assim mesmo”. Ou quando se recupera aos
olhos da mulher, o conjunto da obra absorve o impacto hip-hop que
retirou a melodia da canção e fê-lo dançar conforme a música. No
instante em que começou a perceber um certo sectarismo que envolve
as coisas no mundo, de dividir tudo entre esquerda e direita,
curou-se duvidando profundamente de posições arraigadas ao seu
processo de desenvolvimento. Passou a não ter certeza nenhuma ao
mesmo tempo em que precisou de alguém que lhe desse segurança.
De preocupado em subverter a ordem, com um olhar furioso que
questionava o sexo dos anjos, volveu a uma pessoa mais apresentável,
de se sentir mais cheiroso e a não ter problemas com inveja. Perdeu
o ar apocalíptico e o cinismo ganhou novas cores para achar que as
mulheres são sempre mais maduras do que os homens. Uma canoa furada
se levar tão a sério, abusar da ironia e não ter paciência com gente
burra, se hoje em dia é possível um débil mental ter notoriedade e
visibilidade para influenciar a opinião pública.
Sexo no amor e amor no sexo. Ao aprender não mais separar os
dois elementos, alfabetizou-se. Renega o seu passado de sexo
múltiplo, de colher e dispor do fruto, acordar reiteradas vezes com
uma estranha ao seu lado, em que a relação sexual vira masturbação,
o sexo numa escarradeira. Pouco se importava com o amor, com seu
espírito, com a sua cara, se concentrava na representação concreta
do abstrato do amor. O ritual implicava em logo invadir a intimidade
de quem o atraiu, ao rir, cantar, dançar e se expandir aos seus
olhos. Imediata é a exigência da exclusividade, de querer essa
mulher e cortar o sorriso, a poesia, o ritmo e a doçura no falar.
Murchando-a, quando só então descobre que tudo foi uma ilusão.
Como um astro-rei, é quando transita do mal para o bem ao se
esforçar para acreditar em fidelidade no casamento e tornar-se uma
pessoa leve, o dia inteiro brincando, sem mais se preocupar com a
idade. O verdadeiro compromisso é com a alegria e o senso de humor
da companheira, onde se vê de imediato a beleza. Quanto às idéias...
se houver, melhor.
O que o absorvente foge como o diabo da cruz é de discutir a
relação, considera o assassinato do romance. Por que você fez isso?
No que você está pensando? Para onde você vai? Por que você está
desse jeito? Não agüenta essa mania dela de procurar em cada gesto
um significado oculto que possa revelar um amor em fuga. Relação não
se discute, vive-se.
O absorvente não quer ser visto como ultrapassado, e nada como
uma mulher de perfil moderno para afastar essa suspeita. Como
moderno está associado a um espírito jovem e pleno de energia, fácil
é a transmutação do sabe-tudo em cuca fresca e descolado - o novo
conceito de maturidade. Se ela o fizer se sentir importante e o
paparicar como uma gueixa, é capaz dele vestir um quimono, amarrar
uma faixa na cabeça e, de faca na mão, virar um sushiman.