FROUXO OU CORNUDO?
30 de Maio de 2005
A sociedade continua organizada como se
nada estivesse acontecendo, como se cada um desempenhasse a mesma
função no lar, na tentativa de manter a família funcionando como
manda o figurino. Marido e mulher não podendo trair, se não, para
que morar junto? Me engana que eu gosto, pois isso é do tempo em que
não se tinha opção. Em que o homem só era vítima do casamento se
fosse cornudo, devido à estreiteza dos relacionamentos, nos quais
nem cabia essa alcunha na mulher, que já nascera para ser traída.
Hoje, a traição cedeu espaço à troca quando o parceiro, marido
ou não, deixar de agradar, ou a franca hostilidade tomar conta da
ternura. Não há o que se falar de traição ou cornudo, se somos
livres para optar pelo melhor. Se não o fazemos, recai sobre a
consciência o peso da falta de atitude. E não mais o pecado de
perdoa-me por te traíres. Ser ou não ser cornudo não é mais a
questão. E sim por que você está aí parado, acorrentado a uma
situação que te degrada, quando o teste é de múltipla escolha.
Portanto,
invocar o direito de lavar a honra ferida ou trair o pai de seus
filhos é apelação das mais rasteiras de quem não é capaz de
envolver, arrebatar, pegar no laço ou disparar um tesão
incontrolável, a ponto de detonar todas as teorias que procuram
enquadrar a relação num perfil convencional.
Insuportável é ser chamado de frouxo por essa mulher
vibrante que atropela homens claudicantes, que fingem que nada está
acontecendo ao demonstrarem lentidão no raciocínio.
No sentido vulgar, frouxo é entendido como não dar no
couro, como não conseguir trepar muito ou chegar a várias ereções.
Ampliando o conceito, ser dominado, não tomar decisões, uma fusão do
pau-mandado com a maria-vai-com-as-outras. É quando o frouxo evolui
para o cornudo, a grande conexão, pelo fato de o povo confundir
frouxo com cornudo e lançá-los na mesma vala comum à expiação
pública, como se estivessem jogando bosta na Geni. Outra conexão, de
caráter homofóbico, desta vez como a negação do homem travestido de
mulher.
Frouxo ou cornudo, reféns de um machismo que até as
mulheres fazem uso desse impropério, ao perderem a paciência quando
não bem exploradas. É quando batem a porta para não voltar mais, não
sem antes atingi-lo moralmente.
Pior se o cornudo continuar babando, frouxo por não dar conta
dessa mulher maravilhosa.
É melhor ser estilingue do que vidraça.