MANDONA VERSUS
AUTORITÁRIO
05 de Setembro de 2005
Homem autoritário e mulher mandona. Quando
ele é mandão, encara-se como uma qualidade de quem sabe o que quer e
como se impor, um verdadeiro líder. Se a mulher manda, é vista como um
ato de excrescência. Pelo homem. Como se ele fosse meigo, dócil, cordato
e suave. E, em contrário, a mulher fosse áspera, indomável, autoritária,
no meio de tanta candura.
Se a mulher tem personalidade forte, com convicções formadas
sobre assuntos que domina, é porque é intransigente e apegada a seus
pontos de vista. Com perda substancial de sua feminilidade, abrindo
caminho para ser tachada de mulher-macho. Quando não, mal-humorada e à
beira de um ataque de nervos.
Sublima a realidade em meio a essa frustração
com os homens, realizando-se no trabalho e no cuidado com a aparência,
se não no corpo, ao menos na elegância adequada ao tipo. Meditando
enquanto mergulha nas profundezas do seu interior para capturar o
espírito indômito do qual os homens têm medo. Se sentem ameaçados porque
elas são francas, externam opiniões de forma absolutamente clara e
direta, brigando por elas. Parecendo a eles guerreiras.
Mandar é confundido com guerrear, atributo exclusivo do homem
que se estendeu da caça pré-histórica, para dar o que comer à tribo, até
a conquista amorosa. Se a mulher reage, é em função de uma ditadura do
homem em não querer enxergar a mulher de outra forma. De senti-la como
uma estranha em seu paraíso, que virou inferno.
A consolidação da mulher no mercado de trabalho tirando o homem
de seu lugar cativo num extremo; no outro, a reversão do recato ao
orgasmo múltiplo quando bem lhe aprouver. Funcionam como uma guilhotina
a cortar sua iniciativa e segurança, irritando-o na busca de um tempo
perdido em que procura resgatar sua autoridade. Quando ser autoritário
representava firmeza de ponto de vista e pleno domínio da situação.
As mandonas deram um basta aos que acabam por se revelar
trogloditas sob o mesmo teto. A não aceitar intimidação de truculentos
que se arvoram em paladinos da moral para manter a família do jeito que
ele quer. A primatas sem a mínima noção do que vem a ser diálogo,
produtos de uma criação que os tornou deficientes que exploram a
predileção das mandonas por consolos, por absoluta falta de alternativa.
Mas só estúpidos são incapazes de mudar. Pois se não temos
capacidade de ouvir o outro, admirar a faculdade de argumentar, de ter
prazer no debate e troca de idéias, é porque somos estúpidos. Mudar é um
diferencial importante na natureza humana. Mudando se constrói cultura e
civilização.
Na arena, mandona versus autoritário. Em franca oposição,
necessitando de um diálogo comprometido com a busca da verdade, através
do qual a alma se eleva, afinal, ambos provêm da mesma massa e precisam
se complementar para alcançar uma realidade inteligível. Em que
fraquezas, medos e inseguranças sejam evidenciados para saber quem são
os autoritários e as mandonas.
Caso contrário, cantarão em dueto Chico Buarque em “Pedaço de
Mim”: Ó pedaço de mim! / Ó metade afastada de mim! / Ó metade exilada de
mim! / Ó pedaço de mim! / Ó metade arrancada de mim! / Ó metade de mim!
/ Ó metade adorada de mim! Que eu não quero levar comigo.