SUA MÃE JÁ ARRUMOU
OUTRO NAMORADO?
19 de Setembro de 2005
O casamento é uma forçação de barra para
extrair algo duradouro de um acidente de percurso movido por uma fé
inquebrantável de construir o futuro já. Como se de posse de uma bússola
a agulha magnética apontasse sempre na mesma direção, a revelar um
milagre indecifrável pelos cinco sentidos humanos, cuja atração não se
expressa com palavras e ajuda a montar um imenso castelo de cartas com
que inicia a brincar de amar.
A física de Newton, de sólida e estável, virada pelo avesso por
Einstein, que demonstrou a existência de um mundo invisível repleto de
moléculas e átomos em colisão constante, num ziguezague aleatório: tudo
é relativo no amor. Soou bem aos ouvidos de quem clamava por uma chance
de ser feliz nessa vida. Ao propor uma nova forma de enxergar o
universo, que repercutiu nos relacionamentos e rompeu com os padrões de
concepção da mente humana, ao cavalgar um raio de luz a explorar a
tridimensionalidade que limita o mundo em altura, largura e
profundidade. Mas que não ajudou a descobrir por que todos procuram
inexoravelmente casar se cada vez mais sabemos menos por quanto tempo
ficaremos juntos. Pois ficou ultrapassado afirmar que “se vivo com meu
marido há 30 anos e não confio, em quem mais posso confiar?"
Esquizofrenia pura, que leva as mulheres a se
separarem da inteligência e conhecimento de gênios cuja estatura não
escapa ao buraco negro. Sua luz própria é sugada quando leva seus filhos
à pizzaria no domingo à noite e pergunta: “sua mãe já arrumou outro
namorado?”. Seguido de uma ligação no celular de sua namorada, tornando
constrangedora a tentativa de controlar a quem o despachou para ir de
encontro a quem caiu na esparrela do homem com alma de carcereiro.
Em outros tempos, a ex-esposa não teria moral para mandá-lo
lamber sabão, o correr das horas conspiraria a favor dele recuperar sua
cota de amor nesse latifúndio e, ainda, a pretexto de visitar os filhos,
esperaria eles dormirem e a tornaria sua amante - como se ela não
pudesse mudar o seu destino.
Apesar de elevar demais a auto-estima, sua arrogância é até
interessante pois seu perfil elegante e educado define um pai presente e
politicamente correto. Procura construir-se para ser aceito socialmente
em função do apelo do meio em que transita, de fora para dentro. A fim
de se refugiar na ilusão de reter as mulheres em sua companhia. Julgando
que agrada incondicionalmente. Torcendo o nariz para quem escapar de
suas mãos. Fazendo uso de sua influência em benefício próprio ao se
valer de namoradas, filhas, irmãs e mãe.
Não perfila um quadro, apenas um esboço de si mesmo, ao
desconhecer, por completo, que se possa olhar para uma mulher além de
sua personalidade. Até que encontre um relicário perdido de onde se
aperceba uma consciência que supera as diferenças que o impedem de se
aproximar e transcender a compreensão humana. Se os opostos se atraem e
são faces da mesma moeda, a bipolaridade do homem e da mulher, o yin e
yang, o positivo e negativo, o céu e o inferno, só podem se ajustar e
adequar na profundidade do nosso universo tridimensional.
Essa mulher nem consta de seu imaginário, afinal, não é para
qualquer um. Mas se fosse colocado diante dela, a interpretaria como
mulher de ninguém. Seria uma puta, a não ser que lhe pertencesse. O
tutor de sua liberdade. Fazendo jus que se apagasse os preconceitos
atribuídos a ela, desde que consentisse em ser sua posse.
Mas isso é miragem, tanto que não apareceu um pretendente à
altura para sua ex recompor a vida conjugal. É no que acredita. Para não
duvidar de si próprio.