FIDELIDADE NO CASAMENTO
31 de Outubro de 2005
A história masculina a respeito de
fidelidade no casamento é terrível, triste e deprimente, confessa o
homem diante do Juízo Final.
É a dor de ter que escolher na transição da paixão por várias
mulheres para a idealização da paixão por uma mulher só. A escolha de
Sofia, a dor cruel. Pior quando se é jovem e, na medida que amadurece,
ganha um refinamento. Ainda pesa na balança a incerteza de ser feliz no
casamento. Incapaz de mexer na estrutura do edifício, atém-se apenas à
decoração, afinal, todo mundo tem problemas sexuais. O amor é efeito
colateral do sexo; a fidelidade, um absurdo, só podendo ser compreendida
como uma perversão.
- Tanta mulher no mundo e eu fico com uma só?
Qual a justificativa lógica para isso?.
Sua grande característica é transformar a vida em arte. Ser
artista é a atividade mais importante do homem, elimina qualquer
depressão. A arte foi feita para ajudar os homens a viver. Sua utilidade
se apercebe na insônia, quando não há nada a fazer. O importante não é
descobrir a verdade e sim se divertir. Começa por estudar o personagem,
introjeta nuances e particularidades afins com o ato de pular a cerca,
alternando o ar grave que acentua credibilidade com o sorriso aberto a
sublinhá-lo de bem com a vida. Conscientiza-se dessa emoção e a faz
chegar à razão para depois repeti-la à exaustão. É quando ela se
apaixona ao acreditar na delícia de sua imaginação.
Sujeito ao imperativo darwiniano de competir com outros animais
na conquista da parceira ideal, sai em busca de mulheres sexualmente
atraentes. Os machos competem entre si, embora, contraditoriamente, se
irmanam no comportamento mafioso de repetir a genética ao se afirmarem
comendo a mulher do próximo. O que pode resultar em insegurança se ela
tomar a iniciativa num banheiro de festa, escada de serviço ou rua
deserta.
A querer dar as cartas no jogo com o útero estendendo seus
tentáculos para agarrar e envolver o pênis e acabar com essa história de
ser simplesmente trespassado por ele, pois se até quando está por baixo
suas pernas funcionam como tenazes e puxam o seu homem para si. A
autoridade de quem é detentora do recurso biológico mais valioso, o
óvulo, lhe confere a prerrogativa de escolher o seu parceiro, diante do
desperdício espantoso de espermatozóides na corrida para o orgasmo.
Tamanho desmando nessa configuração biológica só pode fazer o homem
sucumbir ao ciúme, levando-o a se auto-indagar:
- As mulheres estão se tornando vadias ou apenas querem se
igualar a nós?
Apenas querem repetir tudo o que o homem é capaz? Uma linha de
raciocínio ainda atrelada à costela de Adão. Próprio de quem se esfrega
na primeira assanhada que abanar o rabinho. Para gozar da fama de estar
na área sempre que instado a içar sua bandeira. Jamais se critica a
comilança a que o homem se entrega, no máximo um “cafajeste” - soa como
um elogio.
Quanto às mulheres, querem ter o direito de escolher seu
próprio prazer. Sem que isso ponha em risco sua reputação. Para não
ficarem restritas à situação de Maria Chiquinha e ouvirem a pergunta: o
que você foi fazer no mato? Natural que noivinhas, prometidas e
separadas de primeira viagem procurem por onde anda seu orgasmo sem medo
de ser feliz... e chamusquem-se. Se ofendem a parte interessada, é para
evitar o mal maior. Se não saírem em campo e praticarem o esporte de
forma mais incisiva, as labaredas do desejo acabarão por consumir o seu
corpo.
É perigoso brincar com fogo, o homem não é a favor do casamento
aberto. Vai que dá um azar dela encontrar alguém sem papo-cabeça
disposto a escrever uma verdadeira história de amor e não queira mais
voltar para ele. Seguro morreu de velho, melhor manter-se fiel porque
dói muito ser infiel quando se está casado. Dá culpa, estimula
desencontros e corrói a cumplicidade, quando o amor pede apenas a
plenitude:
- Fidelidade: ruim com ela, pior sem ela.